quarta-feira, setembro 05, 2007
quinta-feira, agosto 09, 2007
Acontece
Mexi no que não devia, por não saber, e estraguei tudo.
Acontece.
Agora vou de armas e bagagens para outro lado.
Um dia destes, quando mudar os tarecos, talvez venha cá dizer onde estou.
sexta-feira, agosto 03, 2007
O Governo anda a pedi-las
O Governo andava a pedi-las há muito. E até o próprio presidente da República se sentiu incomodado com tanta falta de bom senso, tanta arbitrariedade e tanto despotismo. E, por isso, devolveu o novo Estatuto dos Jornalistas à procedência, à Assembleia da República.
Por ora, os jornalistas só podem aplaudir. Ainda têm mais algum tempo de tranquilidade. Mas que guardem os foguetes! A "guerra" está muito longe do seu fim...
sexta-feira, julho 27, 2007
No final de uma conferência
"Enquanto houver revolução por refazer não é tempo de dormir".
Marcelino dos Santos, histórico da Frelimo, no Porto, a 26 de Julho de 2007
quarta-feira, julho 25, 2007
Para o Gustavo ouvir
"Bat out of hell", de Meat Loaf
Concentração total, são apenas oito minutos do dia.
Volume no máximo, apesar da qualidade sonora não ser do melhor.
Aqui fica um som bem antigo para ouvidos novos e atentos: um música rock simples, rasgada, emotiva e com muita, muita adrenalina à mistura…
segunda-feira, julho 16, 2007
Decálogo para falar mal de Hugo Chávez
Não conhecia o blogue de Emir Sader, mas hoje fiquei cliente. Misturar verdade com humor não é fácil, mesmo quando as doses só são utilizadas pela metade...
Lembrete pendurado na frente de jornalistas da mídia oligárquica:
1. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele recupera o papel do Estado, desqualificado e enterrado por nós há tempos.
2. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele se diz anti-imperialista e esse é um tema proibido na mídia há tempos.
3. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele funda um novo partido, quando martelamos todos os dias que todos os partidos são iguais, que são negativos, que sempre refletem interesses de grupinhos.
4. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele recupera o papel da política, quando todo o trabalho cotidiano da mídia é para dizer que a política é irrecuperável, que só a economia vale a pena.
5. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele vende petróleo subsidiado aos países que não podem pagar o preço do mercado - inclusive a pobres dos Estados Unidos -, o que evidentemente fere as leis do mercado, pelo qual tanto zela a midia.
6. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele é um mau exemplo para os militares, que só devem intervir na política quando seja necessário um golpe militar e nunca para defender os interesses de cada nação.
7. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele ataca a mídia privada e fortalece a mídia pública. Porque ele acabou com o analfabetismo na Venezuela, tema sobre oqual devemos calar. Porque ele vai diminuir a jornada de trabalho em 2010 para 6 horas e esse tema é odiado pelos patrões.
8. Devo falar mal de Hugo Chávez porque assim me identifico com os interesses do dono do meio em que trabalho, garanto o emprego, fortaleço os partidos e as empresas aliadas do patrão.
9. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele faz com que se volte a falar do socialismo, depois que nos deu muito trabalho tratar de enterrar esse sistema, inimigo do capitalismo, a que estamos profundamente integrados.
10. Devo falar mal de Hugo Chávez (e de Evo Morales e de Lula e de todos os nao brancos), senão eles vão querer dirigir os países, os jornais, as televisões, as empresas, o mundo. Será o nosso fim.
quinta-feira, julho 12, 2007
Mensagem de Ayman al-Zawahiri
Mensagem de Ayman al-Zawahiri à\ao internauta identificado como utilizador da Telepac com o IP Adress 82.155.147.#, de Macieira de Cambra, Aveiro, que passa os dias neste blogue...
Tradução indisponível
Mulher de coragem...
A senhora da foto, Jane Felix-Browne, de 51 anos, diz que casou no Egipto com Omar bin Laden, de 27 anos, um dos 17 filhos de Osama, depois de o ter conhecido há um ano, numas férias, quando era submetida a um tratamento de esclerose múltipla. Independentemente da diferença de idades, é caso para dizer que Jane é um mulher de coragem...
quarta-feira, julho 11, 2007
A mais sexy
Li algures que Hale Berry foi eleita como "a quarentona mais sexy". Na votação terá batido "personalidades" tão importantes como Pamela Anderson, Maria Bello, Daisy Fuentes, Salma Hayek e Nicole Kidman. Mas se calhar não é só "a quarentona mais sexy"... Não é , certamente, por acaso que vai reencarnar a mítica Barbarella.
sexta-feira, julho 06, 2007
"Não posso dar livros"
Não o conheço de lado nenhum e desconfio bem que nunca li nada por ele assinado. Chama-se Adriano Brandão, assina “Prof. Doutor Adriano Brandão” e há dois dias que me envia e-mails a convidar para o lançamento de um livro dele, no próximo dia 20, às 18 horas, na Biblioteca Municipal de Arouca.
Nabice minha com as coisas da informática impedem-me de ilustrar estas linhas com a capa do seu livro, que dá pelo profundo título “A problemática da sexualidade humanizada”.
Nas mensagens que me têm chegado há, no entanto, uma simples frase que me cativa e faz sorrir: “Não posso dar livros, mas se cada um comprar um exemplar, fico muito feliz porque tem interesse".
sábado, junho 30, 2007
sexta-feira, junho 29, 2007
O que mais me preocupa
O que mais preocupa
não é o grito dos violentos
nem o dos corruptos
nem o dos desonestos
nem o dos sem carácter
nem o dos sem ética
O que mais preocupa
é o silêncio dos bons.
Martin Luther King
quinta-feira, junho 28, 2007
Sem vergonha na cara
Correia de Campos é uma das mais sinistras figuras do Governo de José Sócrates.
Ontem à noite, concedeu a si próprio o inqualificável luxo de afirmar que os medicamentos fora de prazo deviam ser entregues aos pobres! Pela manhã, veio a inevitável "contextualização" das suas afirmações, que é uma forma muito engraçada de dar o dito pelo não dito...
Depois de todas as tropelias que já aplicou ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e de uma catrefada de outros abusos a que já abriu caminho, pergunto: com que direito anda este senhor a fazer gato-sapato da saúde e com a saúde que é de todos nós?
Que democracia é esta?!
O exemplo da directora DREN pegou, como era expectável numa sociedade cada vez mais amorfa como a portuguesa.
Hoje foi a vez da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, ser exonerada pelo ministro da Saúde. E porquê? Porque não mandou retirar nas instalações do centro de saúde um cartaz com declarações de Correia de Campos "em termos jocosos"...
Além de termos de nos manter calados & bem caladinhos, também é preciso cumprirmos ri-go-ro-sa-men-te as instruções que vêm de cima, sejam elas quais forem. Porque, caso contrário, ou vai a vai a mal, já dizia o outro...
Ainda não bem não sou funcionário público. Neste momento, muito provavelmente, corria o risco de me mandarem fechar o blogue...
segunda-feira, junho 25, 2007
Ainda a extinção da Caixa de Previdência dos Jornalistas
Duas breves notas a propósito da última crónica de Bettencourt Resendes, antes de assumir a função de provedor dos leitores do DN.
1 – Não é de todo verdade que “a esmagadora maioria da classe passou ao largo do problema” relacionado com a extinção da Caixa de Previdência e de Abono de Família dos Jornalistas. O que se verificou, pelo contrário, é que os aplausos à decisão do Governo vieram precisamente daqueles que com muita facilidade têm acesso a espaços privilegiados nos jornais, i.e., directores e chefes de redacção (curiosamente, os jornalistas que, em Portugal, têm melhor salário)…
2 – Sobre as “situações excepcionais” previstas na lei a que Bettencourt Resendes se refere, vamos chamar os bois pelos nomes! Essas “excepções” reportam-se unicamente aos jornalistas com doenças e/ou com tratamentos do foro oncológico. Como é sabido os jornalistas não são notícia, e os jornais têm levado a máxima ao limite, mesmo que estejamos a falar de cancerosos sem dinheiro nem condições para tratarem das suas enfermidades!
sexta-feira, junho 22, 2007
83.240.223.***
Muito se tem falado, nos últimos dias, do servidor do JN… Pois bem, para os versados em novas tecnologias de informação, aqui fica uma dica, vinda de quem nada percebe dessas coisas, note-se: o IP Address do servidor da Câmara Municipal do Porto é qualquer coisa do tipo 83.240.223.*** …
Para mais informações, e como eu não sou de intrigas, caro internauta, queira fazer o favor de seguir o link.
terça-feira, junho 19, 2007
Terrorismo propagandístico
Com o dinheiro que é de TODOS nós, a Câmara Municipal do Porto (CMP) continua a fazer terrorismo propagandístico.
Anteontem, a CMP resolveu mimosear David Pontes, director-adjunto do “Jornal de Notícias”, com um vídeo de autoria anónima e por ter “participado activamente na manifestação contra Rui Rio à porta do Rivoli”. O delito cometido, pelo que é dado a ver, limita-se ao facto de David Pontes ter estado presente na Praça D. João I e empunhado um “R” desenhado num papel.
O que está aqui em causa, naturalmente, é saber se o exercício da profissão de jornalista limita, ou não, os direitos de cidadania (para além das limitações legais, como é óbvio). Para mim, só há uma resposta, e inequívoca: um jornalista é um cidadão como qualquer outro, não tem mais, nem menos, direitos. E ponto.
Perguntar-se-á, então, se, no exercício de determinadas funções, o cidadão em causa devia, ou não, ter tido uma postura mais recatada? Talvez, digo eu, depende dos casos e, sobretudo, depende do temperamento de cada um. Como é que se pode dizer a um cidadão que também é jornalista para ficar cego, surdo e mudo, pelo único facto de se tratar de um director-adjunto de um jornal, mesmo se à frente dos seus olhos está a ser cometida uma atrocidade? Não sendo as páginas desse mesmo jornal instrumentalizadas pela opinião do cidadão/jornalista/director-adjunto em causa, continuo sem perceber o alcance de tanto incómodo por parte da CMP. Até porque David Pontes não encabeçou manifestação/protesto algum, não! (revejam-se as imagens, por favor). A menos que um cidadão investido em funções de direcção num jornal se transforme, por esse simples e único facto, num eunuco acéfalo e acrítico que só pode opinar sobre futebol (e isto porque sobre Fátima não se opina…).
Mas será que a presença no protesto de quinta-feira passada do cidadão/jornalista obriga, vincula, a instituição JN e quem lá trabalha, já que o cidadão e um dos seus directores-adjuntos são uma e a mesma pessoa? Pela parte que me toca, não, e estou tanto mais à-vontade para o escrever quanto não é menos verdade a minha total e absoluta discordância com textos saídos do computador de David Pontes (e de outros jornalistas com responsabilidades na hierarquia do JN), como um recente, por exemplo, em que defendia a inexistência de uma “clima de medo” nas redacções… Essa questão é uma falácia tão grande como argumentar, por exemplo, que o apaixonado por “dinky toys” cidadão Rui Rio é outro indivíduo que não o presidente da CMP, Dr. Rui Rio, e que todos os trabalhadores da CMP, tal como Rui Rio, Dr. ou não, sempre gostaram de circuitos automóveis e são sócios do Boavista F.C. desde pequeninos!
Neste caso concreto, David Pontes foi honesto e transparente. E por isso o director-adjunto/jornalista/cidadão deve ser aplaudido, não pode ser criticado por tamanha ousadia. Ou será que esse é o preço a pagar pelo atrevimento de ter participado num protesto de cidadania contra uma decisão do poder instalado? É evidente que, daqui para a frente, os seus textos, no JN e no seu blogue, serão esmiuçados até ao tutano, na procura de ligações conspirativas e cabalísticas…
E os resultados dessa pesquisa encontrá-los-ei num site de que também sou accionista…
quinta-feira, junho 14, 2007
Título perverso
Fazer títulos todos os dias, no corre-corre dos jornais, não é coisa fácil.
Como diria um camarada (não consigo chamar companheiro aos que, com a mesmas armas que eu, cumprem a sua função social sem que a profissão seja apenas e só um emprego onde se vai ganhar o pão), é caso para alertar a população: o preço da construção vai estar a preço aceitáveis quando houver despedimentos colectivos!
segunda-feira, junho 04, 2007
quarta-feira, maio 16, 2007
Pequeno intervalo
Razões de cidadania obrigam-me a um pequeno intervalo na construção deste blogue.
Na primeira semana de Junho, espero eu, estarei de regresso.
Até já.
quarta-feira, abril 25, 2007
Música de intervenção feita por miúdos que nasceram em liberdade e que, felizmente, nem sonham o que é a sua falta
segunda-feira, abril 09, 2007
Direito meu
Depois das notícias de hoje, agradeço que de ora em diante seja tratado por “senhor engenheiro”, acho que também tenho direito.
Qualquer relação entre o que atrás fica escrito e o percurso académico de personalidades da vida pública é pura coincidência.
terça-feira, abril 03, 2007
14600
P.S.: Já agora, passem pela Fonte das Virtudes, o rapaz resolveu celebrar o aniversário com uma nova roupagem... Hum...
sábado, março 31, 2007
quinta-feira, março 29, 2007
Alegoria do tamanho do mundo
A história ouvi-a um destes dias, contada por um dos seus protagonistas, e vale pelo que em si mesma encerra de alegoria, o que entendo como a alegoria do tamanho do mundo.
No arranque da década de 1970, um jornal destacou uma equipa de reportagem para a zona da Ribeira do Porto. Objectivo: levar a bom termo uma reportagem sobre os sonhos que alimentavam os jovens daquela zona da Invicta. É preciso acrescentar que se estava no início de mais um ano lectivo, o 25 de Abril de 1974 ainda não tinha acontecido e o jovem repórter, de Roland Barthes debaixo do braço, entusiasmava-se com a tese de que era possível fazer literatura através do jornalismo, intervir no Mundo, fazer da sociedade, através da profissão, algo melhor e mais justo para todos.
Sempre a descer até ao Douro, “ caneta” e “bate-chapas” lá foram. Uma das primeiras visões que tiveram – e que encaixava na perfeição nas teses de Barthes – entrou-lhes pelos olhos dentro mal lá chegaram. No paredão de granito junto ao mercado, um miúdo – que, a época, ainda não tinha lugar na escola –, de cócoras, agitava com um pau algo que lhe captara a atenção numa pequena poça de água. O repórter-fotográfico já estava a imaginar a foto impressa a preto e branco, o jovem acocorado, cabisbaixo, enquadrado no cenário do rio indiferente com uma vista parcial do tabuleiro inferior da ponte Luiz I no canto esquerdo. A máquina disparou por diversas vezes e o repórter fez-se ao motivo da reportagem, o miúdo. Sempre de olhos no chão, a mexer e a remexer na poça de água, o miúdo não mudou de posição. De cócoras e concentrado no pau e no que lhe atraía a atenção, fosse lá o que fosse.
O repórter avançou determinado. Mentalmente também já imaginava uma prosa de ligeiras tintas neo-realistas, Barthes a pular nas meninges, e, porque não?, gritar na “azert” a revolta que lhe ia na alma contra as injustiças sociais que o Portugal ainda sem democracia gerava e alimentava. E, sem delongas, disparou: “Olha lá, quando fores grande o que é que queres ser?”
Sempre de olhos no chão, o miúdo não mudou de posição, manteve-se de cócoras e concentrado no pau e no que lhe atraía a atenção. O seu mundo tinha a distância que separava os olhos da poça de água em que remexia. E seguro de si, fulminou:
– Ó meu senhor, vá foder outro!
segunda-feira, março 26, 2007
Que dia triste...
A figura de António Oliveira Salazar, o homem que disse que um povo culto é ingovernável, acaba de ganhar o concurso "Grandes Portugueses" com mais de 40% dos votos (telefonemas…) de 200 e tal mil portugueses.
Voto de protesto? Falta de distanciamento em relação à História Contemporânea? Não sei, não tenho 50 anos, tantos quantos a RTP assinala, mas é profundamente triste ver num passatempo, como repetidamente Maria Elisa teve necessidade de lhe chamar, que a escolha da maioria vai direitinha para o pior que tem…. a História de Portugal!
Ficam-me na memória, porém, duas imagens: uma francamente positiva, a de Aristides Sousa Mendes, homem simples que soube dar Humanidade à função desempenhava no, seguramente, momento mais difícil da sua vida, “conquistando” quase 20% dos “votos”; outra, o alerta de Fernando DaCosta: “Conheço famílias, aqui, em Lisboa, que deixaram de usar gás, porque não podem pagar, e voltaram a utilizar o petróleo que se usava há 40 anos”.
Tudo isto é ainda mais difícil de engolir porque sucede no mesmo dia em que por toda a Europa se assinalou o 50.º aniversário do Tratado de Roma, o tal documento que singelamente pretendia paz, prosperidade e desenvolvimento para o Velho Continente.
Que dia triste... :-(
Vou nanar...
quarta-feira, março 21, 2007
Que tem a prima Vera
para rimar
com Primavera?
O que tem a Primavera
para partilhar a rima
com a prima Vera?
quarta-feira, março 14, 2007
Arte ou blasfémia?
A Virgem a masturbar Jesus, Cristo pedófilo em plena actividade ou Jesus transsexual são alguns dos temas que inspiram as fotos de J.A.M. Montoya publicadas num livro patrocinado pela Junta da Estremadura, Espanha. Diz quem paga o livro que o autor é “um dos representantes da maior trajectória e credibilidade artística dentro e fora dos nossos limites geográficos”.
Independentemente das tricas político-partidárias que o assunto está a motivar, sobretudo entre o PSOE e o PP, aqui ficam algumas imagens polémicas.
Confesso que já as observei uma dúzia de vezes e eu, agnóstico militante, continuo sem saber se devo aplaudir ou ficar chocado. Alguém dá uma ajuda?
terça-feira, março 13, 2007
Os cobardes
Os cobardes não têm palavra, nem escrevem, mandam sempre dizer por terceiros, e assim podem explicar, à posteriori, que o seu pensamento foi desvirtuado. O comportamento dos cobardes tem sempre um selo de garantia: a garantia de que o dito não foi dito, mesmo que todos saibam que foi dito.
quinta-feira, março 08, 2007
sábado, fevereiro 24, 2007
Exemplos do pior que há na fauna humana
Faria e Hameeda, duas irmãs de 18 e 20 anos, dormiam em Shahpur Chakkar, no Paquistão, sobre os sonhos da juventude quando quatro dos seus tios, maternos e paternos, lhes arrancaram as cabeças a golpes de machado. As jovens, consideradas “kari” (“mulheres negras”), tinham cortejado homens daquele povoado, e os tios “lavaram a honra” da família. Dois dos tios fugiram, os outros todos foram detidos.
Quarenta e seis países reunidos em Oslo comprometeram-se, esta semana, a impulsionar a proibição mundial do uso, venda e produção de bombas de fragmentação. Estas bombas são especialmente letais porque libertam uma grande quantidade de pequenas munições que não explodem necessariamente no momento do seu impacto, tornando-se numa espécie de mina terrestre. Israel usou-as recentemente, no Líbano. Os EUA não subscreveram a declaração, porque consideram as bombas de fragmentação “armas legítimas”.
José Luís de Jesús Miranda, líder da igreja Jesus Cristo Homem, de Porto Rico, pediu aos fiéis da Costa Rica que seguissem o seu exemplo e tatuassem num dos braços o sinal do Anticristo, “666”. O número da Besta figura, agora, nos braços de milhares de seguidores como uma espécie de senha de solidariedade e salvação.
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
Dinheiro lavado em camas sujas
Portugal anda sempre a reboque dos seus vizinhos europeus. Assim era no tempo da outra senhora, e assim é hoje, infelizmente. É fado, dirão alguns. É sina, outros.
A Comunicação Social – que continua a ser tida, pomposamente, como o quarto poder, atribuindo-se-lhe alguns poderes que, de facto, não tem, nem nunca terá tido – vive, por diversas razões, mais um período agitado. Pelo menos lá para as bandas da Global Notícias, do Público, da Cofina… e sei lá quem mais!
O saudável exemplo – deontológico, ético, moral… –, sublinho-o já, chegou-me hoje de Madrid. Os nossos vizinhos espanhóis discutem, neste momento, se os jornais devem, ou não, publicar anúncios ligados à conhecida como a mais velha profissão do Mundo. O debate deriva de outra análise de âmbito mais vasto, a regulamentação da actividade de prostituta(o).
Vanguardista, também, é a atitude do diário gratuito “20 minutos”, que anunciou na sua edição on-line que hoje será o último dia em que publicará aquele tipo de anúncios nas suas páginas, aceitando uma proposta do PSOE que ainda nem subiu ao Parlamento…
Quando chegará cá um debate de semelhante teor? Quando é que os patrões da nossa Imprensa estarão em condições de concluir que as razões económico-financeiras não podem ditar tudo? Ou melhor: durante mais quanto tempo é que na nossa Imprensa continuará a valer tudo, incluindo a indiferença total face à existência de um mercado de mulheres com fim de exploração sexual, e eventual favorecimento indirecto de redes de prostituição? Quanto é que as administrações dos jornais perceberão que há razões, causas e valores sociais com custos financeiros insignificantes face ao retorno cívico proporcionado?
Daqui a muitos, muitos anos chegará, por certo, a vez da Imprensa portuguesa se interrogar sobre o fenómeno. Até lá, as tesourarias continuarão a arrecadar todos os dias milhares e milhares de euros lavados em camas sujas.
terça-feira, fevereiro 20, 2007
Barbárie inominável
A espécie humana é capaz do melhor e do pior. Às vezes, produz barbaridades inomináveis.
As imagens são chocantes, 1.º escalão se é que isso existe.
Quem quiser pode assinar aqui uma petição on line dirigida a Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês. Objectivo: parar o massacre de golfinhos.
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
Os jornais estão cada vez mais parecidos
O novo grafismo do “Público” já está na rede. Pela amostra, os jornais portugueses estão cada vez mais parecidos. O que é lamentável.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
"Histórias da Santa Madre", por César Príncipe *
RECORDAR A MULHER EM 11 DE FEVEREIRO
No dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, também se assinala o dia nacional da mulher. Dia interdito a comemorações quando por aqui vigorava, na máxima força, o macho latino e lusitano, nas ciências zoológicas classificável equídeo salazarense. A mulher beneficiou tanto ou mais com o 25 de Abril do que a classe operária e os assalariados rurais, do que qualquer dos protagonistas das revoluções igualitárias. A repressão sobre as mulheres, exercendo-se a nível político, acentuava-se também a nível da família, das convenções, do ensino, da religião, do emprego. O analfabetismo grassava e fazia parte de uma estratégia calculada, concertada ou espontânea mas que concorria para os mesmos objectivos e resultados: refrear a mulher, fonte do pecado original e animal doméstico por excelência. E o analfabetismo de múltiplos aproveitamentos assumia uma proporção mais massiva entre as mulheres. Eram, de um modo mais cerrado, desincentivadas de estudar, o que agravava o seu concurso e o seu desempenho no espectro das limitações e das oportunidades colectivas.
Mas o racismo uterino alastrava a múltiplos campos, desde logo, o da cidadania. Mesmo no quadro de um recenseamento expurgado e de fraude eleitoral, votar era privilégio de um gineceu cívico: o das proprietárias e licenciadas, então um pequeno estrato de portuguesas. Acrescia que as mulheres quase não ocupavam funções públicas, muito menos na esfera de representação do Estado. Por outro lado, não lhes concediam passaporte e só viajavam com autorização do consorte. Também eram vedadas ao género feminino certas ocupações ou restringidas a casos singulares nos mais diversos âmbitos: governo, autarquias locais, magistraturas, forças segurança, doutoramentos. Mulher de fábrica e de escritório tornaram-se modelos de promiscuidade e condição de estigma. As telefonistas e as enfermeiras foram tolhidas nas opções de casamento. Eram consideradas mulheres de risco. As professoras primárias eram empurradas para o nó com serventuários da máquina do Estado ou varões de fazenda.
Houve mesmo censuras sociais hoje da esfera do inconcebível: entrar num café denunciava um passo para a perdição. Sair à noite indiciava dormir com todos os conhecidos e desconhecidos. Pintar-se constituía sinal de conduta equivoca, próprio de mulheres de teatro. Usar calças ou fumar representava uma atitude subversiva. Expor mais uns centímetros de pele na praia poderia tirar a compostura ao País da Imaculada. Que imaculadas haveriam de apresentar-se ou aparentar-se as noivas, para o efeito amarradas até ao fim dos seus dias e arreadas com vestidos alvos e flores de laranjeira, já que Estado & Igreja haviam concordatado a interdição de divórcio. Depois, dentro do espírito dos altos valores da Nação, a membrana da Pureza tornou-se, na Política de Espírito do Estado Novo, uma instituição tão estimável e venerável como a Igreja, as Forças Armadas e o Dote.
A União Conjugal e a União Nacional completavam-se e emblematizavam-se na Trilogia Fascista: Deus, Pátria e Família. Em caso de adultério ou da mínima tentação da carne, do peixe ou da fruta, o marido passava por viril e a esposa por vil. Discriminação com fundas raízes. Até no seio da Nobreza as mulheres foram as últimas na linha dos títulos e as primeiras a ser deserdadas ou clausuradas em conventos e hospícios.
Mesmo na esfera eclesial, a mulher, laica ou membro de ordens monásticas, continua a desempenhar um papel secundário ou servil. Até nas insígnias mais elementares é patente a segregação e o ferrete: a freira usa aliança de comprometida, de noiva do Senhor, enquanto o padre ou o frade não usam anel de esponsal místico, sentindo-se solteirões livres, garanhões de Deus, dispensados de contrato virginal. Quanto à evolução geral dos costumes, foi fazendo caminho e evidenciando conquistas reais e formais mas os tutores e opressores não debandaram de vez. Buscam e buscarão sempre recuperar posições de domínio e predomínio.
A humilhação (pessoal, familiar, social, religiosa e jurídica) é uma das armas do machismo corrente e institucional. E muitas mulheres colaboram na sua degradação biológica, psicológica e afectiva sempre que se deixam enlear pelos argumentos do agente dominador e humilhador. Fenómeno de submissão e perversão que, à escala de outras culturas ou inculturas, por exemplo, as que praticam a excisão do clítoris (estimam-se em 150 milhões as mutiladas), se traduz no facto de serem mulheres a executar a norma incapacitante e seviciadora no interesse do egoísmo masculino e da ordem naturalizada.
Esperemos que, no próximo dia 8 de Março, o Dia Inter(nacional) da Mulher conte com mais um avanço civilizacional: A vitória do Sim no referendo de 11 de Fevereiro. Na realidade, pouco significado alcançarão as celebrações na boca de determinadas entidades e personalidades se a actual lei se mantiver, lei que protege o aborto clandestino e a fuga aos impostos, lei que mata dezenas de mulheres por ano, lei que ameaça as mulheres com prisão até três anos se não tiverem posses para uma escapadela a Espanha ou a uma clínica portuguesa segura e confidencial. Em Portugal, como é da sabedoria adquirida, à maneira dos estabelecimentos hoteleiros, também, no aborto, as opções marcam a condição económico-social das clientelas: há hospedarias de viela para as mulheres desafortunadas e hotéis de cinco estrelas para as senhoras de cartão dourado. Não querer ver também esta fronteira de estatuto só pode revelar uma imensa distracção ou uma rude hipocrisia.
Os distraídos ainda estão a tempo de se aperceberem do que está em jogo: deixar de criminalizar a IGV até às dez semanas e permitir o acesso a cuidados médicos especializados e legalizados às mulheres que optem por esse último recurso. Quanto aos hipócritas, não vale a pena perder tempo: é a profissão deles.
EURO-INTERRUPÇÃO
O país já alguma coisa saberá como irá o processo de euro-integração. E como iremos de euro-interrupção? Por exclusão de partes, neste ponto reflexivo, não nos centraremos em razões médico-psíquicas, riscos de saúde e vida da mulher, malformação do feto, violação e outros crimes sexuais. A nossa legislação já aceita alguns destes motivos, impondo uma barreira entre as doze e as vinte e quatro semanas. Embora mantenha demarcações temporais médias dentro dos meridianos europeus, também aqui subsiste um imperativo de poder: o consentimento dos pais para menores, mesmo em caso de risco da saúde e vida para a mulher, risco de saúde e de vida que também só pode ser legalmente prevenido na gravidez até doze semanas. Um arbítrio, por certo, eliminável numa próxima humanização legislativa. Uma democracia não deve consentir uma tirania paternal, que encubra o risco de aplicação da pena de morte. Faltará mesmo suscitar a inconstitucionalidade desta norma, cuja persistência nos remete para períodos bárbaros. Será outro combate das forças da tolerância.
Foquemos, pois, o panorama da euro-interrupção. Ei-lo, como amostragem: a pedido da mulher, até doze semanas, a interrupção é livre na Alemanha, na Bélgica, na Dinamarca, na Espanha, na Grécia, no Luxemburgo. Por razões económicas e sociais, até doze e vinte e quatro semanas, respectivamente, a interrupção é livre na Itália e na Grã-Bretanha. Por situação intolerável para a mulher, até vinte e quatro semanas, a interrupção é livre na Holanda, onde, já em 1971, foi aprovada uma lei do teor da que, no dia 11, será referendada entre nós. O membro mais irredutivelmente viril da Europa dos Quinze que, até agora, não tem legalmente permitido qualquer tipo de IVG, esteja em causa a vida ou a morte do feto ou da geradora, é a Irlanda, onde uma cerveja ou um uísque valem mais do que o direito a uma infância feliz e uma maternidade responsável. Com os alargamentos da Europa dos Vinte e Cinco, o clube dos fanáticos soma mais dois países-párias: Polónia (onde, não obstante, se permite ao IVG por razões de saúde) e Malta, ilha-base de cruzadas contra o Islão e os árabes do Médio-Oriente, sob as esporas e os estandartes dos cavaleiros de S. João de Jerusalém/Ordem dos Hospitalários.
Numa vista mais lata pelo mapa europeu (44 países), o Bando dos Quatro emerge como o mais obstinado ou renitente nas coisas da concepção ou da sua interrupção.
Portugal jaz entre ao mais recuados na matéria. Tratemos, pois, em 11 de Fevereiro, também por imperativos de convergência cultural, de nos aproximar da Europa das Mulheres, a quem, durante séculos e séculos, a Igreja negou o direito de ter alma (só se resignou a admiti-lo, sob o ponto de vista das proclamações formais, no séc. XIX, e a quem, ainda agora, nega o direito à consciência quando confrontada com os seus limites. Para os banqueiros, chegará a moeda como projecto de civilização; para o comum dos cidadãos, há outros valores a equacionar, a defender e a reivindicar.
Pelos elementos em presença, Portugal acha-se, pois, na só na periferia geográfica da Europa, integrando-se no Bando dos Quatro, em matéria de consideração pelos valores da família, da criança e da mulher. Pretende-se, pois, no próximo dia 11, introduzir um grau superior de compreensão da condição humana, grau que a generalidade das nações evoluídas já consagrou. Na prática, também os portugueses há muitos anos se pronunciaram pelo Sim à despenalização. Houve um referendo silencioso. Ninguém condena ninguém. Há que rematar o labor do juízo Social com a despenalização teórica, indispensável para fechar o círculo da maldição.
Mas é inadiável encerrar este capítulo negro da nossa democracia. E não é difícil: basta que não abdiquemos de ser racionais, justos e solidários. Em quadra de salve-se quem puder, a pedagogia é árdua mas recompensadora: não devemos desistir de ser humanos.
A RODA ININTERRUPTA
As datas mais consentâneas para referendar a problemática do aborto seriam o 13 e o 28 de Maio. O 13, porque sendo o Dia da Virgem, carrega toda a carga edificante para remissão da mulher portuguesa (atleta de alta competição europeia em abortos clandestinos e maternidades na adolescência); no 28, porque sendo o Dia do Aborto da Democracia, carrega toda a carga vexatória suportada pela mulher portuguesa. São duas efemérides de eleição da Direita Canónica, cuja virilidade preenche os calendários e os anais da História.
Entretanto, que fazer? Não serão as leis nem os sermões que impedirão o trabalhinho de clínica apetrechada ou de vão de escada. As leis apenas impelirão as grávidas para as habilidosas ou darão cobertura sanitária às situações de facto. Em Portugal, tende-se a mascarar o aborto, fingindo-se que se proíbe. Apenas se proíbe, como já referimos, a devida assistência aos ignorantes e aos desamparados. Seria mesmo interessante que certa Imprensa da especialidade averiguasse se figuras que se manifestam contra a legislação despenalizante alguma vez, no seio familiar ou extraconjugal, interromperam voluntariamente a marcha embrionária e fetal. Seria uma investigação paradigmática para ajudar a reabilitar a nossa democracia, minada pelas artes de furtar e do embuste.
Referendar a lei das dez semanas? Que remédio: assim o impuseram. Mas por que não referendar o flagelo da droga, lento e lesto assassino de centenas de milhar de portugueses? Por que não plebiscitar as reformas antecipadas de titulares de cargos públicos e as indemnizações aos gestores de turno? Por que não consultaram o povo sobre a interrupção involuntária do emprego, das maternidades e das urgências hospitalares? Por que não consultaram o povo sobre as privatizações, o preço das habitações ou dos automóveis? Porque não consultaram o povo para o país aderir à NATO e à EU?
O povo só é consultado para que se pronuncie a favor dos seus adversários ou para evitar embaraços ao Bloco Central de Interesses.
Não é por acaso que, no universo partidário, os adversários da despenalização do aborto são, na generalidade, adeptos da penalização das regiões. É o poder discricionário do Estado e de uma casta social sobre os úteros e sobre as terras. Não contente por dominar bancos, hipermercados, fábricas e campos, televisões e fundos europeus, a Direita ainda quer controlar as trompas de falópio.
Uma questão científica se começa, entretanto, a adensar: a pílula abortiva. E depois? Referenda-se a pílula?
Uma recomendação se o Sim contra a despenalização não vencer nesta campanha contra a Idade Média no séc. XXI: enquanto a miraculosa pílula não sofisticar os arsenais da clandestinidade, o remédio será depositar os filhos indesejados ou mongolóides na Roda da Maternidade Ininterrupta, uma Roda pós-moderna, talvez tipo Caixa Multibanco ou máquina de tabaco ou de bebidas e talvez nas imediações da residência de Marcelo Rebelo de Sousa ou do paço do bispo de Vila Real. Acolhendo, com toda a solicitude, os desvalidos (diz-se que mais de vinte, trinta ou quarenta mil por ano em Portugal, a que se juntarão entre 9.000 a 10.000 que, neste momento, são aliviados em Espanha, estes depositários genéticos da Raça albergarão um potencial demográfico capaz de fornecer toda a mão-de-obra à OTA, ao TGV e às guerras que os USA/NATO empreendam pelas terras de Maomé.
Que reforço de militância da Jihad Sexual Portuguesa!
Imaginação ao Poder!
A FILHA DO ARCEBISPO
Os eleitores vão ser chamados às urnas para referendar a lei que se propõe despenalizar a IVG até dez semanas. Não se trata de dizer Sim ao aborto, mas dizer Sim à mudança parcial de uma lei, sujeita a referendo. A lei vigente considera um crime a prática de IVG, contemplando algumas excepções que não cobrem os motivos que levam dezenas de mulheres a recorrem anualmente à decisão da IVG. A lei em vigor redunda numa disposição de terrorismo penal, como se já não bastasse o desconforto das mulheres, atiradas pela lei actual para expedientes de acrescido risco. Os adeptos do não à alteração da lei fazem gala em preservar um stock de adamastores para intimidar a incultura nativa.
A questão da penalização do aborto só foi introduzida no nosso Direito em 1852, embora seja matéria assente o seu recurso desde épocas imemoriais. A tolerância e a punição nunca foram contínuas nem universais, como, de resto, na história de todos os costumes. O que ontem foi válido ou inválido passa ao diametralmente contrário segundo as bandeiras que o sistema de interesses convida a desfraldar. Na corte de Filipa de Lencastre (1387-1415), da Ínclita Geração, uma das aias mais aconchegadas era filha de Martim Afonso da Charneca, arcebispo de Braga. Hoje, Cavaco Silva, no Palácio de Belém, acolheria, entre a nobreza serviçal, hipotéticas filhas bastardas de membros do actual episcopado?
Mudam-se os tempos e mudam-se os templos. Mudam-se as vontades e mudam-se as verdades. A vida está repleta de ilustrações de contraditório. Seriam inesgotáveis as reposições de assuntos que foram sagrados e se transformaram em profanos e que foram profanos e se transformaram em sagrados. Um dos tabus: no século XVII, ainda a Igreja proibia a dissecação de cadáveres. Perdeu mais esse conflito com a Ciência. Outro tabu: na ditadura fascista, o cardeal Cerejeira excomungou o progressista Felicidade Alves. Há anos, o cardeal Policarpo casou o ex-padre no Mosteiro dos Jerónimos. Mais outro tabu: a seguir ao 25 de Abril, o Estado legalizou o divórcio e a Igreja assinou a revisão da Concordata.
Hoje, a Igreja Católica volta a orquestrar os coros genitais. O que não surpreende: por regra, as Igrejas estão desvinculadas das grandes causas da Humanidade, agarrando-se a certos refrões susceptíveis de Espírito de Cruzada. E as problemáticas do sexo (caso do amor, da reprodução, do preservativo ou da homossexualidade) fazem saltar bispos, clérigos, irmãzinhas e brigadas de beatos na reserva. Nada causa mais alarme, febre e prazer religioso do que um debate sobre o Coito ou um referendo sobre a sua Interrupção. Se a Igreja se preocupasse assim com o Desemprego e a Fome, o Analfabetismo e a Guerra, outra seria a Política, outras seria a Economia, outro seria o respeito pelo Direito e pela Paz. Mas a Igreja quase só reage a estímulos destas partes sagradas.
Haja esperança. A Igreja Católica perderá, mais tarde ou mais cedo, a sua guerra dos embriões. A Sociedade acabará por regular este problema de saúde física e de saúde cultural. E os arcebispos, um dia, não muito longe, quem sabe, até voltarão a ter rebentos com direito a ficha no Registo Civil e a valorizar a massa crítica da Universidade Católica.
O DESMANCHO EPISCOPAL
A Igreja está, de novo, na rua a pronunciar-se sobre a interrupção voluntária da gravidez nesta parcela do planeta mergulhada na clandestinidade abortiva e na calamidade fecundativa. Tem toda a legitimidade democrática para se pronunciar como todos terão legitimidade para a contestar. Mas a Igreja Católica Portuguesa, apesar de já forçada a cedências legais e a complacências sociais, continua descompassada de outras Igrejas da Europa, coincidindo, também nesta arritmia, com o fosso que separa o país dos padrões mais modernos da pastoral e do pensamento teológico.
Direito à vida? Dos que ainda não foram paridos ou dos que são transformados em párias? E que dirão cardeais, bispos, padres, católicos e católicas anti-interrupção, falangistas do Não e também fumadores, dos riscos do fumo? Estarão a condenar o aborto por via uterina e a favorecer o aborto por via respiratória? Declara a ciência: O tabaco aumenta o risco de abortamento espontâneo, de morte do feto ainda na barriga da mãe e morte precoce logo após o nascimento. A Conferência Episcopal, na sua próxima nota aos pios e aos gentios, deverá exortar todos os seus membros a abster-se de fumar, a começar pelo cardeal-patriarca?
Quer-nos parecer que o aborto será uma das bandeiras que a Igreja deixará cair, como, ao longo dos séculos, abandonou múltiplas sanhas apostólicas. Já em 1998, numa liberalidade discreta, o Vaticano franqueou os arquivos da Santa Inquisição, violação de segredo até agora passível de excomunhão e que, durante séculos, levou cardeais, bispos, padres e outros devassadores às masmorras e à exclusão eclesial.
Entretanto, há que aprender com a Igreja a fazer amor sem preservativo nem desmancho. Evitando, claro, os pecados de pedofilia, assaz atractivos e crónicos no seio da Santa Madre.
O PERIGOSO SÉMEN DO MARQUÊS
Todos os dias se interrompe voluntariamente a gravidez sob o olhar desatento das feras judiciais e sob a complacência das esferas sobrenaturais. A questão não assume, porém, foros e desaforos de gravidade e de calamidade só porque com o delito não causa demasiado alarme social. A questão alcança inquietante nível no âmbito da saúde pública, o que também não perturba as entidades que citam exemplos europeus, sempre que convenientes e que recolhem o livrinho das citações do Bom Tsé Tung da UE, vulgo Durão Barroso, sempre que as sentenças não são inspiradas pelos grupos económicos ou pelos agrupamentos espirituais.
Por entre as falsas partidas de retoma do debate da IVG, será de situar historicamente esta complexada causa nacional, cujos protagonistas são conhecidos, uns pelo apelo ao realismo e ao humanismo, outros pelo apego a venerandas e coléricas abstracções. Todavia, as grandes abstracções não podem invocar coerência tradicional. Os defensores da tímida liberalização alvo do referendo não passam de anjinhos comparados com o espírito de tolerância da Igreja Católica que, durante séculos, integrou, na sua estratégia de prudente silêncio, o infanticídio e a roda. Os cintos e os votos de castidade jamais conseguiram bloquear os desvarios da Mãe-Pátria.
Sucede que, na actualidade, a Igreja, afoitamente na vanguarda da oposição à IVG, não logra disfarçar as incongruências científicas e as inconsistências pastorais. Com efeito, sendo adversária da Interrupção Voluntária da Gravidez, mostra-se conformada com a Interrupção Voluntária da Esterilidade. Deixa-se resvalar para o contra-senso: por um lado, avaliza actos correctivos da obra do Criador; por outra parte, consente que a relação de um casal, nimbada por um sacramento indissolúvel e pelo pacto de uma só carne, sofra a intromissão e a fecundação de sémen estranho. Um dador anónimo acaba por violar e promiscuizar o sacro reduto do matrimónio, pondo em xeque, no plano objectivo e, por muito que custe admitir, no plano subjectivo, o solene juramento de fidelidade conjugal e a verdade biológica.
Quem garantirá a qualquer bispo de Roma ou bispo de Província que tal esperma não provenha de um herege ou de um violador em série ou de um parente de José Estaline ou do Marquês de Pombal ou do profeta Maomé?
A Igreja sempre detestou perguntas. No entanto, faria bem em ponderar os reais e profundos fundamentos que levam a maioria dos chamados católicos a distanciar-se da linha oficial, autonomizando as suas opiniões sempre que não são atendidas as mais íntimas jurisprudências. Os católicos encontraram uma fórmula sacramental para se distanciarem dos furores normativos: eu cá tenho a minha religião.
Esperemos que, no referendo da despenalização, os católicos sensatos e informados do drama em causa defendam a saúde pública, a livre consciência da mulher e a decência política e cultural na sociedade portuguesa. É, de facto, necessário o voto dos católicos do séc. XXI para que Portugal vença mais um fantasma na sua lenta e penosa emancipação da Idade das Trevas.
CHEIAS DE GRAÇA
Comecemos por Portugal, terrinha fértil em coisas do etéreo. Reinava D. João V e a Fidelíssima Esposa, Mariana de Áustria, não denunciava prenhez, não tranquilizava os cortesãos. Um rei sem filhos deixa a Nação à mercê de cobiças: uns ovários de rainha valem mais do que milhares de espadas e milhentas cruzes. E quando os canhões d’El-Rei não resolvem as necessidades da rainha, eis que intervém a Ordem Celestial. No caso, a Ordem de S. Francisco, com ênfase para frei António de S. José. O arrábido propôs um negócio ao monarca: o útero real seria tocado pela Anunciação se finalmente se comprometesse a erigir um convento em Mafra.
O rei fez votos e Mariana ficou cheia. Deste primeiro parto nasceu Maria Bárbara. Ano após ano, de autêntica rajada, vieram à superfície do solo pátrio mais cinco rebentos. D. João V foi, de facto, oportunamente assessorado por um exímio traficante de influências do séc. XVIII, faltando somente apurar um pormenor que, para a Grande História, pouco contará: se o fransciscano assessorou também a rainha. O certo é que o convento de Mafra redundou no nosso mais majestoso monumento à fertilidade. Que, na altura, não era in vitro, mas in granito. Teve, portanto, Mariana uma princesa que, por consórcio, se alçou a rainha espanhola.
Ora, nem queiram saber, o que de Espanha nos vem: nem bom vento nem bom exemplo. Uma bela e prendada senhora de Mogúncia, que aos vinte anos restou viúva por passamento de Seu Nobre Senhor, foi presa de dois milagres: o primeiro, já que engravidou ao pisar uma erva ruim, calcamento testemunhado por uma donzela (ontem, como hoje, há sempre uma virgem a abonar a conduta de uma mais afoita); o segundo, já que a viúva, com a barriga cada vez mais cheia, confessou a um frade, também franciscano, a sua desdita e a sua vergonha. O monge recomendou-lhe que, de imediato, peregrinasse até Compostela, visto que, com tal adianto, só Santiago era tido por competente. Partiu de Mogúncia, navegou no Reno, repousou em Aix-la-Chapelle. Fez escala em Paris.
Em Setembro, apeava-se em Compostela e defrontava Santiago em pranto, rogando que reparasse o percalço, o embaraço, aquele incauto pisar da erva em Abril. E a viúva, naquela mesma noite, viu-se aliviada do indesejado inchaço. Regressou a Mogúncia e, de gratidão rendida, levantou ao apóstolo uma igreja em São Goar.
Afinal, sempre resta um santo advogado da Interrupção Voluntária da Gravidez. Temos muito que aprender com os caminhos de Santiago.
OS SETE PECADOS MORTAIS DO NÃO
Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
Pergunta a referendar em 11 de Fevereiro
O arsenal do Não contém a habitual metralha de argumentos, alguns roçando a astúcia sofística, outros nimbados de sentimentalismo misericordioso. No nosso entendimento, merecem ser ordenados e classificados como os Sete Pecados Mortais do Não. Sempre fugindo da pergunta do referendo, pois reconhecem que é objectiva, directa, simples, clara. Sabendo que tudo têm a perder com uma abordagem no plano da legalidade e no plano da realidade, procuram interromper voluntariamente a gravidez dos cérebros. Ao objectivo respondem com o subjectivo. Ao concreto respondem com o abstracto. Ao diálogo respondem com a cólera.
Primeiro Pecado: aborto totalmente livre. É uma deturpação da pergunta referendária. Trata-se somente de expurgar da lei (Artigo 140º do Código Penal) a criminalização das mulheres que recorram à IVG nas primeiras dez semanas. Após este período, a lei continua a prever sanção penal. O refrão da liberalização não passa de uma figura de estilo verbal para radicalizar posições, tendências e convicções. Constitui um dos métodos clássicos da chamada propaganda negra.
Segundo Pecado: a imagem dos embriões que, por sistema, irrompem nas bandas desenhadas do Não quase sugerem um superman, com dentes para mastigar um cozido à portuguesa ou, pelo menos, apto a empunhar uma bandeira na barriga da mãe. Já na cruzada de 1998 se soube, nos círculos mais atentos, que o alentado candidato a nascituro fora abusivamente reproduzido de um compêndio americano, ocultando-se o estado mais avançado da gestação.
Terceiro Pecado: o amorfo vital, pelo especialista Albino Aroso comparado a uma espécie de ovo de galinha ou feijão, tem sido apresentado como um ser humano com personalidade, partindo-se deste pressuposto para tocar nas cordas sensíveis da vítima indefesa, tombada às mãos de carniceiros. Acontece que, para lá do abuso da invocação da ciência, a revisão da lei não vai provocar a interrupção de qualquer personalidade. O aborto existirá altere-se a lei ou não. Trata-se tão só e somente de introduzir uma nova escala de graduação penal e ao mesmo tempo de integrar no espaço visível (da saúde Pública) uma dilacerante situação de facto.
Quarto Pecado: os adeptos do Sim defendem o aborto. Acusação delirante: apenas propugnam e não desistem de propugnar pela despenalização da IVG até às dez semanas, advogando condições assistenciais compatíveis com os requisitos do acto e da dignidade da intervencionada. Ninguém, no seu são juízo, defende o aborto por prazer ou como método contraceptivo. Na verdade, cremos que ninguém defende o aborto, excluindo, claro, os industriais e negociantes de carne clandestina. Ficaria bem ao sector político do Não meter a mão na dita consciência. Haveria, se a honestidade ainda for tida em consideração nas suas teses, que tem sido o responsável-mor da desinformação reinante. Milhares de abortos teriam sido evitados se os seus governos em 34 anos de Regime Democrático tivessem sinceramente apostado na educação sexual nas escolas e no meio familiar e simultaneamente no planeamento reprodutivo. Mas não. O sector do Não tem sistematicamente congelado ou boicotado todos os programas. Só recoloca a sua pertinência na Agenda das Preocupações quando surge o debate público ou parlamentar da IVG. Obviamente: para desorientar indecisos e bem-intencionados-apontando uma falsa e inconvicta alternativa. Falsa, porque nunca a quis implementar nem apoiar e falsa, porque, embora tal política de prevenção continue a ser urgente e imprescindível, não soluciona quanto escapa às malhas pedagógicas e de aconselhamento.
Quinto Pecado: a despenalização provocará o aumento de abortos e o caos na rede pública hospitalar, sob o pretexto de que os serviços não se acham preparados para a nova solicitação. Ora, como se comprova pelos dados das autoridades de Saúde da Holanda e da Bélgica, com a despenalização e o estancamento das redes clandestinas e a acção educativa, a taxa abortiva retraíu-se. É possível despenalizar e diminuir a incidência do expediente interruptivo. Ora, as autoridades sanitárias já repetidamente esclareceram: as instituições estatais já atendem cerca de 1.000 casos/ano de utentes com complicações pós-aborto clandestino, pelo que até existe tradição de acompanhamento de interrupções desastradas, estando, entretanto, os responsáveis a estudar dispositivos de acolhimento de acordo com o nível de procura, no quadro de eventual aprovação da lei. Por outro lado, para além dos riscos da integridade reprodutiva da mulher ou mesmo do seu falecimento, um caso mal resolvido ocupa mais meios humanos e de diagnóstico, mais prescrições medicamentosas e maior taxa de utilização de espaços/tempo especializado do que um caso simples de aspiração. Assim, por cada entrada grave, decorrente de aborto clandestino, os serviços poderão ocupar-se de dez casos de interrupção voluntária e legal da gravidez.
Sexto Pecado: os custos, os meus impostos. O slogan economicista é uma patética demagógica consumada: tudo, de facto, tem os seus custos, desde o tratamento da SIDA ao tratamento das demais doenças sexualmente transmissíveis; desde o tratamento da toxicodependência à do tabagismo; desde os tratamentos das enfermidades do aparelho digestivo às do foro cardíaco ou mental. Enfim: é preciso estar muito carecido de argumentos para descer a um patamar contabilístico deste perfil. De resto, se alguém quisesse rebater a preocupação fiscal dos inefáveis adeptos da clandestinidade, bastaria salientar que o serviço de IVG se pagará a si próprio ao evitar que 1.000 casos graves pós-aborto clandestino deixem de entrar nas contas da Saúde Pública e ao obrigar as clínicas que assim fogem aos impostos a cumprirem com as suas obrigações. De resto, provindo tal bandeira dos impostos donde vem, só será explicável pela ausência de fundamentos sérios, procurando explorar a animosidade social contra os impostos. Aqui seria oportuno lembrar aos amigos do Orçamento de Estado: enquanto os crentes normais e os cidadãos comuns são, na verdade, massacrados com impostos, as entidades religiosas, agora em campanha, estão isentas de obrigações tributárias e ainda captam centenas de milhões de euros/ano dos nossos impostos para as suas nobres e caritativas actividades.
Sétimo Pecado: chamada, em 1998, a prestar um miraculoso contributo à causa do não, a irmã Lúcia, após sentenciar ao caminho mais estreito para o Inferno para quantos interrompessem a gravidez, convidada a recordar-se se, em 1917, a Virgem porventura teria aludido ao aborto, reconfirmou os seus dotes para a ficção: Nesse tempo não havia disso. Todavia, a palavra de Lúcia não conformou os devotos da clandestinidade e, vai daí, editaram e distribuíram, só em Janeiro de 2007, dois milhões de desdobráveis implicando a Virgem de Fátima nos segredos do aborto, pondo lágrimas a rolar nas suas faces e vaticinando, em seu nome, os mais horrendos presságios.
Haja fé.
* Escritor, jornalista
RCP - um prémio para quem, por ora, arrisca
Por razões várias, acabei por não escrever, ontem, como pretendia, sobre o Rádio Clube Português (RCP). Mas hoje, nem de propósito!, encontrei um interessante post do João Paulo Menezes já com alguns dias, e dezenas de comentários a preceito.
Até poderia subscrever muito do que por lá está escrito, à excepção daquele exagero óbvio de que o RCP é “concorrência pura” à TSF. É evidente que os conceitos das emissões são diversos, embora o surgimento de uma nova grelha e de uma nova equipa numa rádio de nome quase mítico possam constituir um sinal à atenção dos que trabalham na TSF.
Mas, não. O RCP tem ainda muito para afinar no tal “novo paradigma” das cinco horas de emissão; o João Adelino Faria precisa de reencontrar o seu ritmo; os blocos informativos têm de ganhar ritmo; etc., etc. É verdade. Mas mais chocante do que tudo isso, para mim, enquanto ouvinte distraído, é o modelo seguido nas emissões locais. Na que me chega às colunas do carro é excessiva a agressão aos ouvidos, com jornalistas (serão mesmo jornalistas?) que trocam os bês pelos vês e um autêntico deserto de ideias e de total infantil previsibilidade em matéria de matérias noticiosas.
Aí, sim. O modelo carece de revisão.
Mas o RCP está, para já, a fazer algo de que a TSF se esqueceu e, diga-se, há muito não exercita: arriscar. E só por isso, amanhã, quando me fizer à estrada para e de Lisboa, ouvirei sem interrupções grande parte da emissão.
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
"SIM"
Não tenho grandes dúvidas quanto ao meu sentido de voto no referendo do próximo dia 11, se por acaso pudesse exercer o meu direito visto que, após a visita de um amigo do alheio, fiquei sem quaisquer documentos.
Espectador distraído das campanhas em curso, tenho andado desgostoso com o nível rasteiro a que argumentação chegou. Já ouvi falar de prospectos mais ou menos escabrosos e, provavelmente graças a um autocolante distribuído pelo Instituto do Consumidor que tenho na caixa de correio, não tenho sido incomodado com essa propaganda indesejada.
Mas a sorte acabou. Acaba de me chegar às mãos um pequeno folheto, com os logótipos da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, da Associação Católica dos Enfermeiros e Profissionais de Saúde, do Centro de Preparação para o Matrimónio e das Equipas de Nossa Senhora com o título “10 semanas, 10 perguntas – um exercício de Amor”. No papelucho pede-se aos destinatários que respondam “em consciência e liberdade” a 10 perguntas, já que os seus responsáveis, “como cidadãos”, querem “participar na construção da Sociedade Solidária fundamentada na Cultura do Amor”, em que dizem acreditar.
O modo enviesado como as perguntas são feitas conduzem, claro está!, a um rotundo “NÃO” a todas as questões. Distorce-se a realidade do que está verdadeiramente em causa, manipulam-se os conceitos, mistura-se o que não é confundível. É propaganda da pior espécie admissível apenas num qualquer regime ditatorial. Mas ela aí está, porque a democracia – o melhor dos regimes conhecidos – também tem destas perversidades.
Para que não sobejem dúvidas, eis as perguntas em causa (utilizo o negrito tal e qual os autores do panfleto):
A uma mulher com dificuldades na vida é a morte do filho que a sociedade oferece?
Liberalizar o aborto torna a sociedade solidária?
A mulher é mais digna por poder abortar?
Uma sociedade que nega o direito a nascer, respeita os Direitos Humanos?
É maior o direito da mãe a abortar do que o direito da criança a viver?
Sem razão clínica, abortos são cuidados de saúde?
Concorda que a saúde de outras mulheres fique à espera? (para que o aborto se faça até às 10 semanas)
Aborto “a pedido da mulher”. Há filho sem pai?
Quem engravida gera um filho. Mata-se um filho?
É-se mais humano às 10 semanas e 1 dia do que às 10 semanas?
Lido o questionário, percebe-se que a pergunta levada a referendo – “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?” – não conduz a nenhuma das questões suscitadas no fantástico panfleto. A única coisa que está verdadeiramente em causa é a descriminalização de um aborto em determinadas circunstâncias muito específicas.
O “SIM” ao referendo do próximo domingo não significa que a sociedade vai liberalizar a interrupção voluntária da gravidez, não nega o direito à vida, não desrespeita os Direitos Humanos, não provoca mais atrasos nas listas de espera nos hospitais e centros de saúde, nem confere mais humanidade ou dignidade à mulher.
Baralhar as ideias desta forma vergonhosa é reduzir abaixo do nível zero a seriedade com que o assunto deve ser encarado, tanto mais que o “NÃO” tem alguns argumentos intelectualmente válidos e interessantes de discutir. E é passar um atestado de incapacidade mental a quem tem o azar de tropeçar em tão desprezível opúsculo.
Precisamos de alguém que nos faça sorrir
Dei conta há dias do silêncio a que Alberto João Jardim se remeteu depois do banzé que fez a propósito da nova Lei das Finanças Regionais. Estranhei, inclusive, que a Comunicação Social não se interrogasse sobre o dito manto abstencionista.
O “Público” dá hoje resposta à minha perplexidade, e da forma mais exemplar, diga-se.
A reacção do senhor não se fez esperar, como seria previsível.
Mas que ninguém espere algo de especial, uma reacção institucional, uma comissão de análise, uma investigação do Ministério Público, enfim, qualquer coisa. Nos tempos cinzentos de crise instalada, precisamos de alguém que nos faça sorrir, nem que seja pelo lado mais desgraçado da vida.
Os jornalistas que mordam as canelas ao presidente vitalício do Governo Regional da Madeira, os senhores políticos que lhes façam a guerra política que entenderem, os cidadãos que pensem o que lhes aprouver, sobretudo quando forem chamados a votar, mas o bobo da corte que fique lá: o País precisa dele!