José Rodrigues Miguéis

Recupero a leitura dos jornais de fim de semana e há uma omissão generalizada aos 25 anos da morte de José Rodrigues Miguéis, que passaram na sexta-feira passada, dia 28 de Outubro. O silêncio dos "media" relativamente ao nosso escritor maior da emigração é confrangedor. E assim se vai apagando a memória de um povo.

O fim da "Grande Reportagem"

Isto começa a dar que pensar.

Notícia negativa para aprender a ler

Lê-se aqui que o sector não lucrativo em Portugal envolve 250 mil trabalhadores. O tal sector "não lucrativo" -- um desperdício, já se vê, nos tempos que correm -- refere-se a associações, associações mutualistas, cooperativas, fundações, misericórdias, organizações de desenvolvimento local, museus, instituições particulares de solidariedade social e organizações privadas para a cooperação e desenvolvimento.

É uma notícia negativa, como se Portugal investisse, erradamente, os seus esforços no que não deve -- sim, porque o que interessa mesmo é que qualquer coisa, não interessa o quê, dê lucro, dinheiro, rápido, já!.

Mas é curioso que a mesma notícia assinala que a mão-de-obra que os portugueses aplicam no tal sector não lucrativo (que chatice!) representa 4% da população activa, contra 14,4% na Holanda, 11,1% no Canadá, 10.9% na Bélgica, 10,45% na Irlanda e até, imagine-se!, 9,8 nos Estados Unidos.

Porque será que a notícia não diz exactamente o contrário, que Portugal não investe tanto no "sector social" como deveria, ao contrário do que fazem os países desenvolvidos que tanto dizemos amar?

Recorrer ao telemóvel da vítima para a identificar

Espero que a moda não pegue. Ele há cada ideia que nem ao diabo lembraria!

Gripe das aves

Dom da ubiquidade

Segunda-feira, dia 31 de Outubro, às 21.30 horas, toma posse (devia ser mais moderno e dizer “é instalada”...) a nova Assembleia Municipal de Gondomar. Sucede que no mesmo dia, e à mesma hora, é empossada a nova Assembleia de Freguesia de Fânzeres. Como os presidentes de Junta de Freguesia (isto é, o primeiro de cada lista mais votada) têm assento, por inerência, na referida Assembleia Municipal, posso pensar que o primeiro da lista PPD/PSD-CDS/PP de Fânzeres tem o dom da ubiquidade... ou será este, em terra de Valentim, um novo conceito da democracia?

De DIPONE a ASPONE

O Manuel Tavares passou-se... Ou será que o José António Saraiva merecia tamanha vergastada?

NUNCA

No Aníbal pugessista, NUNCA!

À beira-mar

Abri em rosas
A ferida mais secreta
Do teu corpo

Eram vermelhas.

Feri de espanto
O silêncio mais antigo
Dos teus gritos.

Era de sangue.

Tomei nas minhas mãos
De azul sangrentas
O líquido viscoso
Das placentas da morte
E da agonia,
Do êxtase
E do dia.

E deixei-me ficar
À beira-mar da seiva
Dessa noite
Onde agora fluímos,
Água salgada
E tempo
Dos olhos das origens.

Jorge Huet Bacelar, in "Vector" (Nova Lisboa), n.º 3, 1972.

O autor nasceu em Murtosa (Aveiro), em 1934. Engenheiro técnico agrícola, poeta sem livro publicado, co-fundador do grupo literário "Vector" e da revista com o mesmo nome, viveu em Angola desde os 24 anos de idade até à proclamação da independência.

Uma pérola do jornalismo nos tempos que correm

No JN de hoje, numa pequena caixa inserida num trabalho sobre a Cimeira Luso-Brasileira, há um pequeno texto que deveria suscitar a reflexão de todos os que se interessam pela Comunicação Social. Não está assinada, mas é uma verdadeira pérola do jornalismo nos tempos que correm.
À falta de link na edição electrónica, aqui fica a transcrição:

"Gilberto Gil vira
costas a Sócrates

Gilberto Gil chamou a atenção pelo seu 'look' de artista. Ouviu o primeiro discurso de Lula até ao fim, mas, mal Sócrates se colocou frente ao microfone, saiu da sala com uma pressa algo inusitada. Algum compromisso relativo aos seus concertos? Mais tarde, surgiria de novo, em Serralves, ladeando a ministra da Educação portuguesa, de casaco laranja (!), e a sua homóloga da Cultura, Isabel Pires de Lima, mais em tons de castanho, cor que muito combinava com Gilberto Gil".

Desplante

Acabo de ler, estupefacto, que Valentim Loureiro, afinal, ainda se tem como militante do PSD. É evidente que também sou daqueles que pensa que mais vale o país levar com 48 Valentins do que regressar ao fascismo. Depois daquelas declarações primitivas, a roçar o boçal e o animalesco, na noite de 9 de Outubro -- sim, aquela história do escadote de que Marques Mendes necessitará... --, vem ainda mais esta. Estou a marimbar-me para quem é, deixou de ser ou gostaria de ser militante do PSD, não é da minha conta. Mas será que ninguém pára o desplante deste major à portuguesa?

Frente de Salvação Municipal

As projecções vão confirmar uma esmagadora vitória de Valentim Loureiro, nestas autárquicas. Já não estou em idade de emigrar, mas ainda posso pensar: e se se forçasse uma Frente de Salvação Municipal com todos os partidos (PS, PSD, PCP, BE, CDS)? Já não há estômago para suportar o homem e as suas arbitrariedades.

Sondagens

Os números são reveladores e falam por si.

A sondagem da Marktest publicada no JN de hoje dá 59,2% a Valentim Loureiro, candidato independente na corrida à Câmara de Gondomar, 17% ao PS (Manuel Martins), 7,7% a Gonçalves Pereira (PSD/CDS-PP), 2% a Pimenta Dias (CDU) e 1% a João Semedo (BE). O número de indecisos está nos 19,2%.

Cruzem-se estes números com os de outra sondagem, os da Universidade Católica, editada no “Público” da sexta-feira, no essencial reproduzida na posta anterior, e descubram-se as diferenças...

Quem não tiver tempo, pode descansar: a grande sondagem do eleitorado chega domingo, às 19 horas.