Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quarta-feira, maio 31, 2006

Só nos blogues há liberdade


Vai por esse mundo fora um cada vez mais animado debate sobre os blogues e a imprensa. Agora chegou a vez do “Periodista Latino” entrar na discussão. Não sei se um blogue é um espaço de discussão, de expressão, de informação de cidadania, sem pressões, nem coacções, como nenhum outro meio pode ser. Mas que a ideia é bem interessante, ai lá isso é.

segunda-feira, maio 29, 2006

No dia em que o medo julgou ter tudo, tudo

"Poema pouco original do medo", de Alexandre O'Neill, num dia em que o medo, "no murmúrio dos esgotos", julgou ter tudo, tudo.


O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém o veja

mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos

sexta-feira, maio 26, 2006

Ai Timor!

“Não vale a pena andarmos a enganar-nos. O país não tem sido bem governado e espero que a experiência, para os que estão em cargos eleitos, de terem a necessidade de pedir ajuda do exterior, induza o comportamento apropriado no país”. Não fugiu a boca de John Howard, primeiro-ministro australiano, para a verdade. É mesmo um tique neocolonialista que lhe ficou de pequenino…

quinta-feira, maio 25, 2006

Womad


No último fim de semana de Julho, era em Rivermead, Reading (Reino Unido), que eu gostaria de estar.
Olhando só para o alinhamento de artistas, digam lá se vão a pena sonhar:





28 de Julho
Anoushka Shankar (Índia); Ayaan & Amaan Ali Khan (Índia); Bellowhead (Reino Unido); Da Lata (Brasil/França); Dennis Rollins' Badbone & Co (Reino Unido); Emmanuel Jal (Sudão); Gotan Project (França); Los De Abajo (México); Mahotella Queens (África do Sul); Salif Keita (Mali); Salsa Celtica (Reino Unido); Tiger Moth (Reino Unido); Vaerttinae (Finlândia); Vusi Mahlasela (África do Sul); Warsaw Village Band (Polónia); Yerba Buena (EUA). Club WOMAD - Heatwave with Quality Diamond & Yungun (Reino Unido/Jamaica); JSTAR & MC Honey Brown (Reino Unido); Trojan Sound System with Brother Culture, Chuckie Banton & SuperFour (Reino Unido).

29 de Julho
Akli D (Argélia); Batucada Sound Machine (Nova Zelândia/Brasil); Bomba with Derub (Austrália/Etiópia); Bukky Leo & Black Egypt (Nigéria); Debashish Bhattacharya (Índia); Dona Rosa (Portugal); Enrique Morente (Espanha); Femi Kuti & The Positive Force (Nigéria); Joji Hirota, Kenny Endo & John Kaizan Neptune (Japão/EUA); K'Naan (Somália/Canadá); Nanci Griffith (EUA); Orange Blossom (Argélia/México/França); Ska Cubano (Reino Unido/Cuba/Jamaica/Japão/Montserrat); Sunshiners (Vanuatu); Thomas Mapfumo & the Blacks Unlimited (Zimbabué); Titi Robin (França); Toumani Diabate & Symmetric Orchestra (Mali); Trilok Gurtu & the Misra Brothers (Índia); Vusi Mahlasela (África do Sul). Club WOMAD - DJ Patife & Cleveland Watkiss (Brasil/Reino Unido); Marcelo D2 (Brasil); Mr Bongo DJs (Reino Unido).

30 de Julho
Angelique Kidjo (Benin); Cherifa (Marrocos); Diana Hamilton (Bahamas); Djaaka (Moçambique); Djelimady Tounkara (Mali); Dona Rosa (Portugal); Guo Yue (China); Ivo Papasov & his Wedding Band (Bulgária); Konono No1 (Congo); Laura Veirs (EUA); Mastana, Qawwali du Rajasthan (Índia); Mitsoura (Hungria); Pascals (Japão); Pedro Luis Ferrer (Cuba); Sharon Jones & The Dap Kings (EUA); Spanish Harlem Orchestra (EUA). Club WOMAD - Coldcut - Live (Reino Unido); Norman Jay (Reino Unido).

quarta-feira, maio 24, 2006

Luandino a luandar

Luandino luandou razões "pessoais, íntimas" para não receber Camões em forma de estatueta e dinheiro. É ele mesmo, luandino a luandar como nenhum outro pula do Makulusso ou de Cerveira.

domingo, maio 21, 2006

Insultos, energúmenos & desatinos




energúmeno s.m. possesso do Demónio; [fig.] pessoa que, dominada por uma obsessão, pratica desatinos (Do gr. energoúmenos, «possesso», pelo lat. energuměnos, «possesso do demónio»)
in Dicionário da Língua Portuguesa, 8.ª edição, da Porto Editora







Entendeu o senhor doutor juiz Carlos Coutinho condenar o cronista do “Público” Augusto M. Seabra a uma multa de 2140 euros e a uma indemnização de 4000 euros a Rui Rio por causa de um artigo, de Junho de 2003, em que o crítico ousou usar a palavra “energúmeno” para qualificar o comportamento do presidente da Câmara do Porto na polémica da Casa da Música, quando exigiu a demissão de Pedro Burmester daquela entidade.

O senhor doutor juiz Carlos Coutinho escreve no seu acórdão que Augusto M. Seabra abusou do direito à liberdade de expressão e opinião, já que, mesmo no contexto em causa, “não se pode usar esta expressão”, pois o seu sentido é o de uma pessoa “desprezível”, “selvagem” e “sem princípios”, pelo que, conclui, houve uma ofensa à honra de Rui Rio.

“O tribunal compreende que a crítica é essencial, mas, no caso concreto, considera que não houve por parte do arguido uma preocupação cívica de respeito pelo destinatário”, disse o senhor doutor juiz Carlos Coutinho. É que, acrescentou, ainda, este senhor doutor juiz, tratando-se de uma figura pública “têm que haver restrições”.

Durante o julgamento, Rui Rio explicou que tinha sido “insultado” e que o artigo teve implicações familiares. “Energúmeno é um insulto, como muitos que se usam na língua portuguesa. Significa alguém que não tem princípios, que não respeita regras básicas, que atropela tudo e todos”.



Não sei quem é Carlos Coutinho, nem encontrei no Google uma única fotografia do dito senhor doutor juiz iluminado, ao contrário de Rui Rio (231 mil entradas) e, até, do aparentemente delicado vocábulo “energúmeno” (23.700 entradas). Mas sei que o direito à liberdade de expressão e opinião é fundamental num Estado democrático como penso que ainda é Portugal, tão fundamental que até um tal de Alberto João Jardim usa e abusa desse mesmo direito sem que conste ter sido, algum dia, condenado. Sei também que não “têm que haver restrições”, mesmo tratando-se de figuras públicas, até porque – por enquanto, pelo menos… – o sol quando nasce é para todos, e se não nascer está mal, e isto ainda não é, que me conste, um país em que uns são mais livres do que outros.

Sei, ainda, que, em tribunal, Rui Rio traçou um auto-retrato perfeito e que o senhor doutor juiz Carlos Coutinho nem se apercebeu. E sei que a página na Internet da Câmara Municipal do Porto é, esse sim!, o maior insulto à inteligência dos portugueses nos últimos 10 anos.

E sei, por fim, que fico sem entender, em todo este caso, quem é, afinal, o maior energúmeno. Alguém pode ajudar a travar o desatino em que fiquei?

sábado, maio 20, 2006

Checkpoint do tema

Inédito de José Carlos Martins que à falta de espaço onde caiba para ser publicado é aqui editado.


Coloquei-me dentro de uma campânula de vidro, de média espessura. Estava à vontade. Havia luz, havia largura. E fiz jejum, principalmente de notícias e comentários, atuns de lata sociais. Pus-me ao abrigo de intempéries emotivas, políticas, literárias e outras... são “coisas” como estranhas monções ocidentais, mas também elas sazonais. Ouviam-se os velhíssimos pardais. Mas eu queria que se operasse uma mutação, onde o silêncio deixaria piar inconcretas aves dos começos da criação. Tive, no princípio, cuidado com a posição dos tornozelos... a posição devia ser, para mim, dentro da campânula, uma postura. E o silêncio foi-se fazendo, manhã dentro, nos dias a frio em que esperei resultado, despido, como quem paga uma promessa. O tema, esse não era uma questão de pressa, mas sarar uma ferida, iniciar, de lobo, uma corrida, sobre a ferida colocar uma compressa. Fora da campânula, mortais, como eu, movidos a energia, passam da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, na labuta de formigas, cegas de dia a dia, surdas de relógios, mesmo daqueles que servem para medir ócios. Nem através do vidro olhavam, não tinham tempo [que é isso do tempo? “O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual” (1)], e, se lá dentro estivesse um macaco, também não se importariam que o macaco fosse eu. Dentro da campânula podia estar uma obra-prima em gesso ou decorrer um sábio congresso, as multidões não procuram tema, vivem no ouro da fome das piscinas, e das cilindradas, muito menos de um poema
(...)
Mas e a faceta subjectiva da situação que desencadeara? O tema como cordão que vai tecer o texto, que lhe vai, umbilicalmente, indicar um rumo, continuaria a ficar como pretexto? Até aqui, a este exacto ponto deste narrar (a vírgula), zero. Zero ou nada? Grau zero pelo menos, de uma escala que não vemos, nem sentimos como conhecimento, nem exteriorizamos como lamento. Nada portanto... por enquanto. Ainda não tinha escapado à contemplação entre o umbigo e a paisagem, ao colocar dos tornozelos e ao silêncio fast food em que se tinha constituído a situação. Banal, adaptável e consumível, ainda politicamente correcta, no movimento electrónico dos dias que iam passando, num sono acordado. Um tema. Um pesadelo. Algo que estivesse do lado certo, estando, para dar uma ajudinha, leve, às trabalhadoras formigas, do lado errado. Quem sabe, no centro da espessura do vidro, na contemporaneidade constante da sua transparência, viandante da sua própria estrutura molecular. O tema devia andar no ar. Um tema... um tema tem que voar.
(...)
Fugir! Fugir que há destino quando queremos escrever um naco de letras com sentido, e isso constitui-se em ruído, contra a preguiça e logo à partida presunção de inutilidade. Pouco mais há acrescentar à estúpida obra da humanidade... o tema poderia só ser a procura da felicidade, no ouvir correr um regato, não metafísico, não literato... Tinha levado comigo, para dentro da campânula, um exemplar da edição da “Antígona” de “Os livros da Minha Vida” de Henry Miller. Quando olhar através do vidro me cansava, lia e tomava notas num pequeno conjunto de papéis (não gosto de cadernos de notas com lombada). “Para o escritor, um livro é algo que se vive, uma experiência, não um plano a ser executado de acordo com leis e especificações” (pág. 15). Esta pequena frase apaziguou-me. Fiquei bêbado de um pouco de confiança. Ler, como escrever, pode embebedar. Miller embebedou-me. E, de cor (porque surgem nestes momentos estas “coisas” de cor?) nalgum sítio da minha cabeça: “o homem, pré-histórico mascarado de bom grado, em feiticeiro cornudo, entregava-se, nas cavernas, a caçadas mimadas...”. (2) É isso, Miller, nada de planos pré-concebidos, viu-me bem dentro da minha caverna-câmpanula, mimando angústias de criação, sem ossos religiosos e outros elementos de construção. Quando para si deve ser ”tudo realizado com discrição com tacto e devoção”. Dizia, ainda, Miller, isto, quando discorria acerca de Dante. Acrescentava: “Faltam-me as palavras”. Como lhe podiam faltar as palavras? Porque foi quem foi, e porque de Infernos e Invernos sabia ele tudo. Nos temas, nos livros e fora deles. Principalmente, fora deles, segundo o seu próprio julgamento, na vida e no pensamento, fora deles. A campânula está ficar azulada com o cair de mais uma noite eterna, dentro das cavernas do filosofar escrevente. É por estas horas que o tema voa, se escapa, não se deixa caçar com gramáticas, dicionários, enciclopédias e proclama, só, a singeleza, para a humanidade, do ser e do estar. Contudo há uma substância do existir em texto, nem que seja uma nova maneira de viver no silêncio, agindo na quietude das esperas. Descobre-se então que o mundo são esferas rolantes do tempo, e o tema, primeiro pensado, uma falaciosa ilusão. Azula-se, mais, a campânula, fecha-se um pensamento negro. Como Miller, nada de presunção. Se ninguém quiser nada com o tema, óptimo. Se o tema aparecer que eu, ou cada um, que diga o que tem a dizer... Óptimo.
(...)
Começa a soprar uma brisa do Norte, mesmo feita em Portugal. Aventureira, cobre tudo de uma limalha de cobre, cor e textura adequadas para a busca da concisão. Aventureira porque não faz escolhas. Vive, espalhando limalha de pensamentos e a espalhar, também, a confusão. E ainda ouço, Miller que estive a ler: “Uma das poucas recompensas que um autor obtém pelos seus esforços é a conversão de um leitor num amigo pessoal e caloroso”(3). E, lembro-me, por aquilo que posso ter vivido que não há tema ou texto que resista à traição, de si, pela sua própria construção. Assim o que valha a pena talvez seja o aperfeiçoamento e a superação na nitidez do dizer. Como Miller, passe a imodéstia, assim penso que pode e deve ser. Saio da campânula. Estou calmo no julgamento e consequente nos propósitos. Sinto-me um velho Cavaleiro Templário, paisagem fora, dentro de uma tela de Magritte, levo um escudo e uma flâmula.... o tema... Depois de vencida a distância, o tema é só um checkpoint... lá toma-se uma bebida quente, de rebentamentos e sons sincopados de automáticas armas... é a Globalização? Veja Henry Miller, tanto livro, tanto tema, e a humanidade não consegue o perdão!



José Carlos Martins
Inverno 2005




Bibliografia:

(1) “Pensamentos sobre o tempo”, Paul Fleming, “O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão (antologia)
(Tradução de João Barrento)
(2) “As religiões da Pré-História”, André Leroi-Gourhan, Perspectivas do Homem, Edições 70
(3) “Os livros da minha vida”, Henry Miller, Antígona

sexta-feira, maio 19, 2006

Prémio Camões


Num dia maior na vida Luandino Vieira – distinguido hoje com o Prémio Camões – repito um post de há quase um ano. Uma pequena homenagem pessoal a um escritor grande de Angola.





Canção para Luanda

A pergunta no ar
No mar
Na boca de todos nós:
- Luanda onde está?

Silêncio nas ruas
Silêncio nas bocas
Silêncio nos olhos

- Xê
mana Rosa peixeira
responde?

- Mano
Não pode responder
Tem de vender
Correr a cidade
se quer comer!

«Ola almoço, ola amoçoeé
Matona calapau
Jiferrera jiferreresé»

- E você
Mana Maria quitandeira
Vendendo maboque
Os seios-maboque
Gritando
Saltando
Os pés pescorrendo
Caminhos vermelhos
De todos os dias?
«Maboque m’boquinha boa
Dóce docinha»

- Mano
Não pode responder
O tempo é pequeno
para vender!

Zefa mulata
O corpo vendido
Baton nos lábios
Os brincos de lata
Sorri
Abrindo o seu corpo

- seu corpo-cubata!

Seu corpo vendido
Viajado
De noite e de dia.

- Luanda onde está?

Mana Zefa mulata
O corpo-cubata
Os brincos de lata
Vai-se deitar
Com quem lhe pagar
- precisa comer!-

Mano dos jornais
Luanda onde está?
As casas antigas
O barro vermelho
As nossas cantigas
Tractor derrubou?

Meninos nas ruas
Caçambulas
Quigosas
brincadeiras minhas e tuas
asfalto matou?

- Manos
Rosa peixeira
Quitandeira Maria
Você também
Zefa mulata
dos brincos de lata

- Luanda onde está?

Sorrindo
As quindas no chão
Laranjas e peixe
Maboque docinho
A esperança nos olhos
A certeza nas mãos
Mana Rosa peixeira
Quitandeira Maria
Zefa mulata
- Os panos pintados
Garridos
Caídos
Mostraram o coração:

- Luanda está aqui!

Luandino Vieira, in “Cultura II, 1957, n.º 1

quinta-feira, maio 18, 2006

Acta

Aos dezoito dias do mês de Maio do ano de dois mil e seis, na mui nobre e invicta cidade do Porto, os condóminos convocados compareceram em massa. Após animado e bem disposto debate, durante três horas, os condóminos decidiram:

1 – Mostrar a força da unidade;

2 – Convocar nova reunião de condomínio para os dias 9 e 10 de Junho;

3 – Apelar à criatividade dos presentes, nomeadamente quanto à forma como se vão preencher as 48 horas da próxima reunião;

4 – Não esquecer os ausentes;

5 – Verificar o estado das antenas de televisão junto à casa das máquinas;

6 – Sensibilizar os condóminos do condomínio ao lado, mas que fazem parte deste bloco de apartamentos, para a necessidade de obras de reabilitação.

E por não haver mais nenhum assunto a tratar encerra-se a presente acta, que vai ser assinada pelos presentes e distribuída pelos meios habituais.

terça-feira, maio 16, 2006

Convocatória

Quinta-feira, dia 18, às 15 horas - todos à reunião de condomínio!

sexta-feira, maio 12, 2006

Vergastadas com chicote de crina de cavalo

A maternidade do Hospital S. João, no Porto, ao que se saiba, não consta da lista das que, por razões estritamente económicas, o ministro Correia de Campos quer fechar. Mas um sítio onde é possível acontecer uma troca de bebés não devia ser encerrado "ad eternum"? Se a resposta é negativa, ao menos que se encerrem os responsáveis pelo serviço numa masmorra, onde possam ser vergastados, durante 15 dias, com um chicote de crina de cavalo.

quinta-feira, maio 11, 2006

Um Zé Manel qualquer


Um indefectível portista, nem sempre bem intencionado (no tocante às opiniões futebolísticas, como é bom de perceber), avisa-me que aí está a primeira contratação do Benfica para a próxima temporada.
Eu, benfiquista de trazer por casa (daqueles que não percebem nada de bola, não vibram nos estádios aos fins-de-semana, não adormecem a ver o "Domingo Desportivo" ou qualquer um dos 35 sucedâneos, mas sabem que são encarnados), aviso os incautos que não, que o homem da foto (tenho dificuldade para fixar nomes) não é jogador do Benfica, nem irá sê-lo. E porquê? Simplesmente, porque o Benfica não gasta um único cêntimo sequer com um qualquer Zé Manel que veste de azul.

O meu nome árabe

باولو ف. سيلبا

e pronuncia-se "baulu f silba"

:-)

A Câmara Municipal do Porto abriu uma delegação no Japão

quarta-feira, maio 10, 2006

Homem como ele

Já não o via há dois ou mais anos. Hoje encontramo-nos para um café rápido. Gosto dele, do seu jeito desajeitado. José Carlos Martins é um tipo simples, que apenas quer viver em paz consigo e com as coisas do Mundo.

A sua escrita está, sem qualquer sobra de dúvida, ao nível do que se publica na I Liga dos nossos escritores – falo de Saramago, Lobo Antunes, Agustina, Manuel António Pina, Luísa Costa Gomes, Lídia Jorge, ele há tantos… – mas poucos, além dos amigos, lhe dão atenção. O Zé não sabe promover o seu trabalho, não sabe vender as suas ideias, não sabe encostar-se a um amigo bem posicionado. Fica nas covas, e escreve. Coisas simples, mas também coisas muito elaboradas.

Hoje, deu-me fotocópia de um texto que foi dado à estampa no mês passado, imagine-se!, no número de arranque de “a Nova Chama”, publicação dos Bombeiros Voluntários de Crestuma, uma espécie de legenda para duas fotografias editadas pelos jornais.. Só o Zé.

O texto é uma homenagem aos bombeiros – “Homens como eles” é o título –, mas se perdermos de vista esse mote e aplicarmos as palavras ao conceito genérico e abstracto da vida percebe-se melhor o que atrás está dito. E percebe-se, também, que o Zé um talento criativo injustamente marginalizado pelo sistema.


“É preciso ter fogo no coração para que o medo líquido que corre nas veias afronte as barreiras de chamas numa habitação ou na floresta… e… depois as vença. Então o rescaldo, cansado, é uma festa.

É preciso ter mãos hábeis, saber certo, para que o medo líquido que corre nas veias faça escoar, por vias seguras, areje e faça ar numa inundação. E tudo fique seco. E a alegria da vitória sobre o sinistro se torne um eco.

É preciso conhecer, profundamente, o sentido da vida, para que o medo líquido que corre nas veias deixe levar um doente ou moribundo ao hospital, para que essa mesma vida continue na cura ou na cerimónia sepulcral.

E é preciso o dever cumprido com modéstia, como um voluntário, de quem sabe que a Natureza tudo comanda, que com ela se convive e se combate, mas que para um bombeiro o que conta é sempre a réstia de esperança”.

domingo, maio 07, 2006

Coisas lindas

sábado, maio 06, 2006

Resistir é vencer (*)


Timor vive, por estes dias, a crise política mais grave desde a independência, a 20 de Maio de 2002. Militares revoltados, violência (que, até, já resultou em mortes), medo. Parte muito significativa da população de Díli refugiada nas montanhas.

No inconsciente nacional volta a pairar a antiga preocupação do império, como se a preocupação com Timor sempre tivesse bailado na cabeça dos portugueses. Tudo conversa da treta, porque, afinal, só “descobrimos” o território em 1999, à falta de uma outra causa colectiva.

Motivo de cobiça internacional, pela riqueza do mar com que a Natureza presenteou a ilha, Timor é paradoxalmente um dos países mais pobres do Mundo. E, inevitavelmente, assim continuará a ser. Económica e culturalmente, Timor não deixará ser aquilo que já é hoje, pelo menos, para os nossos padrões de modernidade: um vazio sem perspectivas para os locais, um paraíso em estado bruto para os “malai” endinheirados.

Figura de consenso muito alargado, Xanana Gusmão tem corporizado, desde a sua libertação da cadeia de Cipinang, em Jacarta, em 1999, o sonho da construção de um país novo. O sorriso inocente e a simpatia de um homem que, afinal, é igual a todos nós muito tem ajudado.

Com o desejo manifestado pela independência, num ímpar referendo de Agosto de 1999, o trilho da história ficou marcado, depois, pela violência sem fim que manchará, para sempre, a história da Indonésia. Mas, em várias ocasiões, a simples entrada em cena de Xanana foi determinante para apagar pequenos e grandes “fogos”, para o que contribuiu, e muito, a sua histórica luta – reconhecida internamente e por individualidades acima de qualquer suspeita, como Nelson Mandela ou Bill Clinton. Cansado de uma vida de guerrilha, cansado da política e dos seus jogos de cintura, Xanana manifestou já, por diversas vezes, vontade de abandonar, na primeira oportunidade, a Presidência da República Democrática de Timor-Leste e dedicar-se aos pequenos Alexandre, Kay Olok e Daniel que a australiana Kirsty Sword lhe deu.

As situações de maior fervura, política, partidária e social, têm sido pacificadas por Xanana Gusmão. Mas, agora, o caso é diferente. Os repetidos apelos do Governo e da Presidência não foram suficientes para suster a revolta dos 591 militares expulsos das Falintil (Forças Armadas de Timor-Leste). Não evitou, segundo dados oficiais, cinco mortos e 40 feridos. Não evitou os tumultos à porta do próprio Palácio do Governo. Não evitou que elementos da Polícia Militar desertassem e se juntassem aos revoltosos escondidos nas montanhas. Não evitou a reinstalação do medo. Nem as conversações de Xanana com a Igreja Católica – a quem pediu para, nas missas de domingo, amanhã, apelar à calma e ao regresso das populações – indicam que a situação possa normalizar em breve.

E, por isso, a dúvida é cada vez mais pertinente: neste exacto momento, que papel desempenha Xanana? No seu jeito peculiar, e sem qualquer receio, mesmo em relação à sua integridade física, o presidente de Timor-Leste poderia já ter protagonizado um bom punhado de iniciativas que tranquilizasse a população. A cobiça pelo petróleo do Mar de Timor é cada vez mais intensa, as clivagens políticas no seio do próprio Governo são cada vez mais profundas, as divisões entre loromonu (da parte ocidental da ilha) e lorosae (da parte oriental) são cada vez mais evidentes, as ambições pessoais de alguns ministros são cada vez mais incontornáveis, mas ninguém como Xanana, ainda hoje, corporiza o símbolo da unidade, tanto para consumo interno como externo. E que tem feito ele? Pouco. Do que se sabe e vê, muito pouco. Nem mesmo quanto os interlocutores disseram que já só acreditavam em Xanana Gusmão.

É estranho que assim seja. Custa a crer que Xanana, com o passado que se lhe conhece, não possa ir mais além no seu trabalho de reconstrução e de coesão nacional. É estranho e doloroso. Mais ainda para os próprios timorenses, que vivem na própria carne as agruras de uma viagem que merecia melhor sorte.

* Título roubado a uma autobiografia de Xanana Gusmão

Já mete nojo!

Há muito que todos sabemos estar o JN envolvido numa monstruosa cabala. A Câmara Municipal do Porto, dirigida por Rui Rio, bem que nos tem alertado no site da autarquia, que, como se sabe, é pago por todos os cidadãos.
Agora, o DN ousou pôr em letras gordas de primeira página mais lume na fogueira. Será que é uma cabala montada pela Global Notícias?
Se dúvidas existirem, leia-se, por favor, o "comunicado" de hoje do senhor presidente da Câmara, qual virgem ofendida por lhe terem apalpado as mamas... Já mete nojo!