Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Anúncio

“Viagem pelas ruas da amargura” informa os seus clientes do encerramento da loja, a partir desta data, até ao próximo dia 3 de Janeiro, devido às celebrações de Ano Novo.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

José Gomes Bandeira (1937-2006)

Agora partiu o Bandeira. O “Bandeirinha”.

O “Bandeirinha” – assim era tratado por um pequeno grupo de jornalistas estagiários que com ele conviveu e aprendeu pequenas histórias da chamada crise académica – tinha um feitio muito particular. Arrisco que, para alguns, tinha mesmo mau feitio, era irascível.

Mas não. O “Bandeirinha” era um homem culto, que sabia ter de aprender todos os dias um bocadinho mais para tentar ser o que sempre fora: um Homem. Por isso, devorava cinema, consumia e anotava livros (que não gostava de emprestar…), interessava-se pela história cultural da sua segunda cidade (o Porto), estudava para melhor apreciar os vinhos que bebia e aconselhava, analisava em detalhe os alimentos com que confeccionava uma refeição, por muito simples que fosse. Sabia ouvir, mas exigia respeito. Gostava que o ouvissem, também, e quando assim não era sentia a desconsideração como a mais funda das punhaladas. Indignava-se.

O “Bandeirinha” era, afinal, um perfeccionista. O rigor e o respeito pelo outro foram as suas obsessões. Preocupações éticas nobres que, com o tempo, parecem caídas em desuso.

Vou entrar no Ano Novo mais pobre.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

James Brown (1933-2006)


I don't feel good!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Boas Festas



Boas Festas ou, como diria um camarada que agora diz ser um "homem velho" (depois de ter sido um "homem novo", digo eu), boas festas pelo corpo todo...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Ainda os privilégios dos jornalistas

O Governo decretou (no mais militar e prepotente dos sentidos que o verbo possa ter) o fim do financiamento público a subsistemas de base profissional para cuidados de saúde e o encerramento da Caixa de Previdência e de Abono de Família dos Jornalistas.

Foram alguns os que, mesmo no seio da classe jornalística, aplaudiram prontamente uma decisão política errada – porque equipara por baixo, e não tenta, sequer, melhorar e alargar o que já existe – e sem qualquer expressão económico-financeira. Houve, inclusive, quem rejubilasse com o fim dos “privilégios” dos jornalistas.

Não vou ignorar que, na prática, o Estado está a transformar em mercado a saúde dos cidadãos. Não vou ignorar que as empresas proprietárias dos jornais diários deixaram de pagar o adicional sobre a publicidade (de Agosto de 1995 a Setembro de 1997) sem que tivessem sofrido a mínima sanção por terem violado a lei, causando danos irreparáveis dos quais são vítimas todos os jornalistas beneficiários do Fundo Especial de Segurança Social. Não vou ignorar que as empresas proprietárias de jornais diários contraíram, com o seu incumprimento, uma dívida de 2.075.398,69 euros (valor confirmado por auditoria do Tribunal de Contas). Não vou ignorar que ao revogar o adicional, o Governo determinou, em 1998, a realização de um acordo entre o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS) e a Associação da Imprensa Diária. Não vou ignorar que tal acordo, obrigatório por lei, nunca chegou a ser assinado. E não vou ignorar que, do montante global da dívida, as empresas proprietárias de jornais diários apenas entregaram 120.561,16 euros (como consta da documentação do IGFSS e auditada pelo Tribunal de Contas).

E, agora, diga-se lá quem são os privilegiados. Os jornalistas ou as empresas proprietárias de jornais diários? Os jornalistas ou o Estado?

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Dia da Mãe

No dia de Nossa Senhora da Conceição, Dia da Mãe, que hoje se assinala, já quase ninguém se lembra dela. Estamos (quase) todos convertidos ao negócio capitalista que empurrou o Dia da Mãe para Maio.

É triste. Elas, as mães, mereciam mais e melhor. Sempre mais e melhor.

A história da formiguinha laboriosa

Amigo de longa data, fez-me chegar ao e-mail a história da formiguinha laboriosa revista e aumentada à luz dos conceitos neoliberais em vigor. Como a própria história conclui, as semelhantes com a realidade são mera coincidência.

“Todos os dias, a formiga chegava cedinho à oficina e desatava a trabalhar.

Produzia e era feliz.

O gerente, o leão, estranhou que a formiga trabalhasse sem supervisão. Se ela produzia tanto sem supervisão, melhor seria supervisionada.

E contratou uma barata, que tinha muita experiência como supervisora e fazia belíssimos relatórios.

A primeira preocupação da barata foi a de estabelecer um horário para entrada e saída da formiga. De seguida, a barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma aranha que, além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.

O leão ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com índices de produção e análise de tendências, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.

Foi então que a barata comprou um computador e uma impressora laser e admitiu a mosca para gerir o departamento de informática.

A formiga de produtiva e feliz, passou a lamentar-se com todo aquele universo de papéis e reuniões que lhe consumiam o tempo!

O leão concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga operária, trabalhava. O cargo foi dado a uma cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.

A nova gestora, a cigarra, precisou ainda de computador e de uma assistente (que trouxe do seu anterior emprego) para ajudá-la na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho e no controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e a cada dia se mostrava mais enfadada.

Foi nessa altura que a cigarra convenceu o gerente, o leão, da necessidade de fazer um estudo climático do ambiente. Ao considerar as disponibilidades, o leão deu-se conta de que a Unidade em que a formiga trabalhava já não rendia como antes; e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse soluções. A coruja permaneceu três meses nos escritórios e fez um extenso relatório, austero, em vários volumes, que concluía:

"Há muita gente nesta empresa"

Adivinhem quem o leão começou por despedir?

A formiga, claro, porque "andava muito desmotivada e aborrecida".

Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência ...”

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Tenho uma gaita nova!

domingo, dezembro 03, 2006

El credo del capitán



No picaré en el cebo de la vida,
turbio nombre que Dios puso a la muerte;
la farsa de la historia, de la suerte,
me pilla con la máscara vestida,

y la naturaleza, esa homicida,
de tanto aporrearme, se ha hecho inerte.
Naturaleza, historia y Dios, Reverte,
no harán que me desangre por su herida.

En nadie creo ya, en nadie espero,
y no me amo yo más que a otro del hato.
Guardo la compostura, veo y río,
O si acaso desprecio... Nada quiero.

Sólo matar el tiempo en quienes mato,
batiendo el ala triste del hastío.
-Esto habló un capitán, hombre de chapa,
tiró la copa y se terció la capa.


Poema de Francisco Rico
Ilustração de Fernando Vicente

sábado, dezembro 02, 2006

À atenção de fazedores de opinião

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tem discutido com os seus associados, de Norte a Sul do país, um proposta para a sustentabilidade económico-financeira do sistema de saúde específico dos jornalistas.

Depois dos protestos de algumas vozes contra os “privilégios” dos jornalistas, ainda ninguém se pronunciou sobre o teor da referida proposta, a sua seriedade, a sua exequibilidade.

Tudo isto tem o ar, cada vez mais, de que o Governo lançou uma cortina de fumo sobre a classe jornalística, de quem soube lançar estrategicamente os seus peões no tabuleiro antes de avançar com as figuras e gritar “xeque!”. Com a cobertura implícita, ou não, do sector dos seguros (e de quem são as seguradoras, de quem são?), o “xeque” está dado, mas o resultado do jogo é ainda uma incógnita.

Em abono da verdade e, já agora, em nome, até, da seriedade moral e intelectual, seria óptimo que os fazedores de opinião dissessem de sua justiça sobre a proposta do SJ. Ou será que a verve fácil e populista se esboroa diante da realidade e o concreto?


PROPOSTA DOS JORNALISTAS PARA A DEFESA DA SUA CAIXA
Considerando que:
1. A Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas representa um património dos jornalistas;
2. O Sindicato dos Jornalistas detém responsabilidades históricas e institucionais na gestão da Caixa;
3. O SJ tem por missão, entre outros objectivos, defender os direitos e interesses gerais da classe, independentemente da qualidade de sindicalizados dos jornalistas;
4. O SJ tem presente o debate desde há tempos gerado no espaço público acerca da manutenção de alegados privilégios dos jornalistas, e especialmente a inaceitável suspeição lançada sobre a honra dos profissionais, debate esse que ganhou maior intensidade com o anúncio da decisão do Governo de extinguir a Caixa;
5. O SJ considera que designadamente o subsistema de saúde de que os jornalistas têm beneficiado pode ser mantido e deve ser melhorado, sem que possa legitimar a mais leve suspeita de que representa um privilégio em relação às condições que o Estado concede a outras profissões e aos cidadãos em geral;
6. O SJ considera ser possível garantir o financiamento de um sistema próprio sem onerar o Orçamento do Estado e sem introduzir qualquer discriminação positiva ilegítima,

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas apresenta à Classe, para consulta geral, a sua proposta de
Plataforma Multilateral para a Sustentabilidade do Subsistema de Saúde dos Jornalistas
I – Objectivos
A presente proposta de Plataforma visa garantir os seguintes objectivos:
1.º – Assegurar aos jornalistas em geral a manutenção do direito à livre escolha do médico e unidades de tratamento;
2.º – Manter e melhorar os níveis de comparticipação nas despesas com assistência médico-medicamentosa;
3.º – Manter e melhorar um serviço de atendimento personalizado aos jornalistas;
4.º – Garantir a sustentabilidade económico-financeira do sistema específico dos jornalistas;
5.º – Reforçar a eficiência e a credibilidade da gestão do sistema específico dos jornalistas.
II – Condições
São condições essenciais para a consecução dos objectivos acima enunciados:
a) A disponibilidade do Governo para aceitar uma moratória pelo menos na produção dos efeitos da sua decisão de extinguir a Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas, especialmente no que diz respeito ao subsistema de saúde, pelo tempo necessário à negociação e implementação das medidas alternativas, bem como para cooperar com os actos políticos e administrativos necessários à implementação das soluções contidas nesta Plataforma;
b) A disponibilidade dos jornalistas para se baterem pelo recurso a fontes de financiamento adicionais e inovadoras, bem como para encararem a eventual necessidade de um pequeno esforço pessoal;
c) A disponibilidade do Poder Político para equacionar e implementar as medidas que passem por actos legislativos e, se necessário, pela arbitragem na conciliação de interesses entre os jornalistas e as empresas;
d) A disponibilidade das organizações patronais para cooperarem na construção de soluções de financiamento adicional com o recurso ao uso de direitos dos jornalistas, sem onerar necessariamente as suas empresas.
III – Medidas concretas
A manutenção e melhoria do sistema próprio dos jornalistas implica as seguintes medidas:
1. Avaliação do actual sistema, designadamente através do estudo comparado dos custos com a saúde dos jornalistas e seus dependentes, tendo como referência os custos médios do Serviço Nacional de Saúde.
2. Celebração de contratos-programa entre o Ministério da Saúde e o sistema específico dos jornalistas com vista à transferência regular (em duodécimos) das verbas do OE que proporcionalmente caberiam aos seus beneficiários.
3. Quantificação das necessidades financeiras para suportarem a eventual diferença entre os custos imputáveis ao SNS e as previsões orçamentais que assegurem a manutenção e melhoria do sistema.
4. Elaboração de um plano de reposição e de controlo da verdade contributiva, envolvendo o SJ, as organizações patronais e os organismos inspectivos, com vista à eliminação de fugas às contribuições das empresas e dos jornalistas.
5. Discussão com o Poder Político e com as organizações patronais, no âmbito da discussão da revisão do Estatuto do Jornalista e da necessidade de regulamentar o comércio e até a utilização não onerosa de cópias de publicações, das seguintes iniciativas:
a) Criação de uma contribuição, a pagar pelas empresas, a título de direitos de autor, sobre a replicação, pelas empresas jornalísticas, nos seus sítios electrónicos, dos trabalhos criados originalmente para outro suporte;
b) Criação de uma contribuição, a pagar pelos jornalistas, a título de esforço suplementar, sobre a concessão de direitos de reutilização de criações;
c) Criação de uma taxa sobre a actividade de colecção de recortes de imprensa e de “clipping” electrónico desenvolvida por quaisquer entidades – públicas e privadas – a título oneroso ou não oneroso;
d) Atribuição ao sistema de saúde dos jornalistas de 50% das receitas provenientes das coimas decorrentes da aplicação do regime disciplinar previstas na Proposta de Lei de revisão do Estatuto do Jornalista.
6. Estabelecimento de um sistema de controlo e gestão das receitas enunciadas nas alíneas a) a c) da medida anterior, quer por criação de um órgão específico, quer através de protocolo com outras entidades.
7. Criação de um Grupo de Missão, envolvendo representantes do Governo, do Sindicato dos Jornalistas, da Caixa de Previdência e da Casa da Imprensa, com o objectivo de estudar e implementar as medidas enunciadas e outras que venham a revelar-se úteis.
Novembro de 2006