Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

#47 D.C.

Há quem se queixe do rosto que faz parte deste blogue, este mesmo aqui à direita do monitor, que é estranho, que não confere. Hoje, porém, ele fica um pouco mais claro, com contornos mais definidos, se se tomar em consideração o conjunto de respostas que entendi dar às perguntas que a "Notícias Lusófonas" me fez chegar.

domingo, fevereiro 26, 2006

#46 D.C.


José Luís Oliveira deve ser bom rapaz... Teve boa escola, por certo, Valentim Loureiro é um bom mestre

#45 D.C.

Se um gato bem aparentado, garboso, com um olho de cada cor, nos urina ostensivamente nos sapatos, isso é...?

sábado, fevereiro 25, 2006

#44 D.C.

O teste é simples.

Que vês na foto seguinte?





Consta que investigações recentes demonstram que as crianças não podem identificar o par que está na garrafa, muito simplesmente porque não têm a mente associada a esse tipo de cenários. Ou seja, tudo o que vêm são nove golfinhos.


Consta, ainda, que se não consegues ver os ditos golfinhos em apenas seis segundos algo de errado se passa com o nível de corrupção em que tens a cabeça...


Eu ajudo:

1
...

2
...
...

3
...
...
...

4
...
...
...
...

5
...
...

...
...
...


6
...
...
...
...
...
...

E agora diz lá se não vês os nove golfinhos?

#43 D.C.


Não o conheço, mas sei que se chama Pedro Aniceto, mantém viva uma interessantíssima mailing-list - para quem gosta e cultiva um produto informático único, Macintosh, de onde recebo, volta não volta, imagens curiosas como esta que aqui se reproduz - e ainda alimenta um blogue... É obra!

#42 D.C.

Na Escola Superior de Jornalismo, no Porto, aprendi pela voz de um professor, que também viria a ser meu director, que a melhor definição de notícia é "aquilo que é singular". Por isso, pergunto: no caso desta notícia do DN, há alguma novidade?, há alguma coisa de singular?

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

#41 D.C.

Já alguém reparou como em A tasca do Belmiro se anda a falar de coisas sérias?

#40 D.C.

Ó Manuel, claro que não é confortável, claro que percebo muitíssimo bem quanto dizes que são os teus póprios pares que te maltratam, sei-o por experiência - e, já agora, até estou a falar de realidades políticas e partidárias difrentes... -, sei o que isso significa, o que isso dói. Dói imenso, é uma dor que se carrega com tremenda dificuldade.
Mas pensa numa coisa: depois do que tu próprio alimentaste numa célebre reunião, no final de Janeiro, estavas à espera de quê? Compreensão? Aceitação?

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

#39 D.C.

O assunto é tão bárbaro, sinto-me tão chocado, que nem consigo qualificá-lo.
O Mundo é cruel, tal como as crianças. Mas, que homens anda o Estado a fazer com as crianças de hoje?

terça-feira, fevereiro 21, 2006

#38 D.C.


Puseram o homem grande parte da manhã no DIAP, mas afinal o IPPAR já tinha retirado todas as queixas há uma semana. Mais uma oportunidade para o senhor presidente da Câmara do Porto voltar a interpretar o papel que melhor sabe desempenhar: o de vítima.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

#37 D.C.


Haja alguém que diga ao senhor procurador-geral da República que quanto mais fala, mais se enterra! Parece incrível, mas Souto Moura tem uma queda natural para o disparate.
Pois bem, diz o tal senhor, agora, que o inquérito ao caso "envelope 9" não deve ser pressionado por prazos...
Palavras dele: "É evidente para qualquer pessoa que lida com os tribunais e os inquéritos crime que não faz sentido nenhum fazer um processo e uma investigação a prazo, dizendo que em tal dia tema de estar acabado".
Será que também "cola" se eu disser ao meu chefe que não devo ser pressionado por prazos para executar um determinado trabalho que, por acaso, é o meu?

#36 D.C.


À atenção dos programadores informáticos.
Roubei a imagem daqui, e acredito que o anúncio é candidato aos óscares do ano.

#35 D.C.

Duas horas apenas de sono por cada noite? Quando os patrões descobrirem as vantagens do novo fármaco, resolve-se o problema da baixa produtivividade...

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

#34 D.C.

Antes de um ministro da Saúde de um Governo socialista (socialista?) achar que pode dizer alarvidades como esta, não seria melhor alterar aquilo a que ainda se chama Constituição da República Portuguesa? Por outras palavras, para que serve, afinal, a dita Constituição? Arquivo morto da memória democrática?

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

#33 D.C.

Estava à conversa com Kopomir Taskov – famoso escaquista, como muitos saberão – quando, de súbito, ele me recordou a primavera marcelista. Fui ao Google e encontrei o seguinte texto que lhe enviei:


“PRIMAVERA MARCELISTA
ESTADO SOCIAL
Para substituir o Dr. Oliveira Salazar, o Presidente da República escolheu o Professor Doutor Marcello Caetano. Era Professor de Direito, reitor da Universidade de Lisboa, considerado um democrata e um homem de inteligência e honestidade invulgares.
Imediatamente acaba com a polícia política, a PIDE. Mais tarde substituída pela DGS, para defesa do Estado.
Abre-se a esperança para a oposição. Agora, com Marcello Caetano, liberal, avesso a violências e pacificador, que abria a porta e os braços aos exilados, tudo parecia ir correr bem. Mas ainda em 1968 é preso o padre Felicidade Alves, pároco de Belém e em 1970 o padre Mário de Oliveira da Lixa, por contestarem a política Ultramarina. Neste ano, morre Salazar.
A Primavera Marcelista, como ficaram conhecidos os primeiros anos do Professor Marcello Caetano, saldou-se pelo progresso, uma melhoria social com a atribuição de pensões aos trabalhadores rurais e às profissões mais modestas.
Através das "Conversas em Família" na RTP, o Prof. Marcello Caetano, explicava ao país as medidas que o Governo tomava e tudo parecia sossegado.
Os planos quinquenais de fomento continuaram. O desenvolvimento do país era uma realidade. Mas havia necessidade de uma abertura política que permitisse a formação de partidos políticos. Marcello Caetano sabia-o e tentou tudo para o conseguir.
Em 15 de Maio de 1972, o jornal de "Economia e Finanças" advoga a não entrada na CEE, em virtude de, ao fazê-lo, sermos obrigados a abandonar o Ultramar. A 12 de Outubro é morto pela DGS o estudante José António Ribeiro dos Santos. A 30 de Dezembro, um grupo de católicos ocupa a capela do Rato e aprova uma moção contra a guerra colonial. A DGS invade o templo; muitos são presos e o padre Alberto Neto, responsável pela capela, é exonerado das suas funções.
O período de graça esfuma-se.
Marcello pede a exoneração do cargo ao Presidente da República, este não aceita.
A 13 de Julho de 1973, Marcelo Caetano autoriza os oficiais milicianos a passar aos quadros permanentes. Os oficiais de carreira não gostam do Decreto. Deste descontentamento, motivado pela progressão nas carreiras e seus respectivos vencimentos, irá nascer o 25 de Abril.
A 23 de Fevereiro de 1974 o general Spinola publica o livro "Portugal e o Futuro" onde advoga a adesão à CEE, o fim da guerra do Ultramar e a constituição de uma federação de Estados.
Os militares sentem-se apoiados.
A 16 de Março de 1974 dá-se um levantamento militar que partiu das Caldas da Rainha, mas que abortou.
A 1 de Abril de 1974, O Prof. Marcelo Caetano assiste, em Alvalade, ao jogo Sporting - Benfica. A multidão ovaciona-o efusivamente. Ele, que já tinha pedido, de novo, a exoneração do cargo, alegando razões de saúde, fica emocionado.
A 17 de Abril, o ministro do Ultramar, Dr. Rebelo de Sousa, faz sair uma portaria que tornava extensiva, a Lei Nº 5/73 (reforma do sistema educativo) às províncias de além-mar.
A 25 de Abril de 1974, o Regimento de Santarém, comandado por Salgueiro Maia, avança sobre Lisboa, Marcelo Caetano é informado sobre o que está a acontecer, não tem coragem de o impedir. Pensou que assim seria mais fácil resolver o problema do Ultramar e fazer reformas urgentes com a anuência de diferentes partidos políticos tendo como padrão uma democracia de tipo ocidental. Julga poder continuar no país. Spínola pede-lhe que siga para a Madeira com o Presidente Américo Thomás. Este acusa-o de não ter querido evitar o que aconteceu. Cortam relações. No Funchal compreendeu que as condições não lhe permitiam continuar a colocar a sua inteligência ao serviço da Pátria. Morreu no Rio de Janeiro, amargurado e revoltado com a cegueira e a ingratidão dos homens.
Em carta que me dirigiu, datada de 2.XI.78, vinda do Rio de Janeiro e publicada em 1993 no livro "Crónicas da Província e Intervenções Parlamentares" pags, 14 e 15. Edição de "A Província", e hoje em http://www.cunhasimoes.net ao responder à minha pergunta: por que aceitou ser Primeiro Ministro e lá continuar, a certa altura diz: "...foi isso que me permitiu aguentar cinco anos e meio o regime e fazer um esforço para salvar o que fosse possível, no meio da cegueira dos políticos, da recusa de colaboração dos adversários ou dos reticentes, do egoísmo dos capitalistas, da estupidez da alta burguesia, das ilusões dos intelectuais irresponsáveis, da manobra da Igreja preocupada em não perder algum comboio vindouro e a braços com o problema ultramarino que no país a direita se recusava a compreender da única forma possível e que a ONU não deixava resolver pela única maneira que seria admissível para Portugal..."
Vê-se, por este pequeno extracto, quanto se sentia amargurado, frustrado e desiludido com a incompreensão dos homens. Não quis regressar à Pátria. Repousa em terras Brasileiras. Viver e morrer no Brasil é tão apaixonante como viver e morrer em Portugal. A língua abraça-nos e encata-nos. A eternidade aceita-se com menos esforço. ”




Mas aqui chegado, fiquei desmemoriado... Porque será que ele me falava da "primavera marcelista" em tempos de democracia, justiça e liberdade?

#32 D.C.

O Conselho de Ministros deve estar atento ao que se escreve nesta Viagem.

Só assim se entende que depois do apelo aqui deixado há dias tenha decidido o que decidiu hoje... Só se esqueceu da Caixa Geral de Depósitos e da PT, mas esta última é uma questão de semanas ou meses, já está encaminhada.

Mas já é um bom começo para se debelar a crise!

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

#31 D.C.

A Polícia Judiciária efectou, hoje, buscas na redacção do 24 Horas e em três casas que, de algum modo, estão ou estiveram relacionadas com o free-lancer Jorge Van Kriken e apreendeu vários computadores. Trinta e três dias depois do jornal ter revelado que uma lista impressionante de altas figuras do Estado tinham sido investigadas no âmbito do processo Casa Pia.

Os jornalistas não estão acima da lei, mas a própria lei dá-lhes protecção no exercício da sua actividade. Dá? Deveria dar...

As constantes violações do segredo de justiça – e os jornalistas não cometem as violações sozinhos, é preciso que alguém lhes passe as informações – são, na realidade, preocupantes. Mas entre a violação e a manutenção do segredo num restrito círculo de informação – porque o segredo, em absoluto, nunca existirá –,venha o Diabo e escolha.

Aos costumes, trinta e três dias depois do anúncio de um inquérito que todos só concebem célere e eficaz, o procurador-geral da República continua a dizer nada. E continua impune.

Só que o “show-off” do C.S.I. à portuguesa vai deixar marcas. E essas marcas vão passar, uma vez mais, pelo reforço do medo e pela protecção dos mais fortes.

#30 D.C.


Jorge Monteiro Alves editou, recentemente, o seu romance de estreia, "Nunca passes além do Drina". Levo a leitura sensivelmente a meio do romance - e apanhei, para já, uma excelente narrativa situada em Díli, Timor -, mas não é sobre isso ao que venho.

O pretexto, imagino, talvez tenha sido o próprio livro, mas nunca se fala dele numa entrevista concedida às "Notícias Lusófonas", antes da vida dos jornalistas e das suas condições de vida no trabalho. Ele sabe do que fala, tem experiência para isso, e é particularmente contudente em algumas das opiniões que emite.
A sua leitura obriga-nos a reflectir. Ainda bem.

#29 D.C.


O bom do Salomão gostou do post, e enviou informação adicional sobre os benefícios da cerveja. Aqui vai:

"1. Nutricão - A cerveja é uma autêntica fonte de nutrientes e fibras solúveis e ao contrário do que muitas pessoas pensam, é compatível com uma alimentação equilibrada. Por isso, para aqueles que a evitam, com medo de atrapalhar sua dieta alimentar, é importante ressaltar que o consumo moderado não é prejudicial para o organismo e serve como complemento da alimentação, já que contém pouco açúcar, nenhuma gordura e é rica em hidratos de carbono, vitaminas, minerais e outras substâncias benéficas ao nosso organismo.
2. Rins - Graças ao seu baixo teor de sódio, a cerveja produz um efeito diurético, o que estimula o funcionamento renal. Ajuda também a controlar a hipertensão.
3. Prisão de ventre e câncer de cólon - A cerveja, por conter fibras solúveis, aumenta a quantidade de fibras naturais do organismo, reduzindo assim as probabilidades de câncer do cólon, além de aliviar a prisão de ventre.
4. Riscos cardiovasculares - Devido aos antioxidantes naturais e ao álcool que contém, aumenta os níveis do chamado “bom colesterol”. Assim, se consumida com moderação ajuda no combate às doenças que acometem o coração.
5. Caso não seja um apreciador da bebida, você pode usufruir os seus benefícios através da levedura de cerveja, que entre outras coisas, alivia o cansaço, aumenta as defesas do organismo, regula a função intestinal e melhora a textura da pele, dos cabelos e das unhas."

E como o Salomão não gosta de se apropriar do que não é dele, acrescenta que aprendeu tudo aqui.

Já agora, e a título de informação, o cão dá por nome de Gandhi. E consta que o gato Xico também gosta...

domingo, fevereiro 12, 2006

#28 D.C.

- Salomão, que barulho é esse?
- É o meu cão a espirrar.
- O teu cão está doente?
- Hehehe...
- Então? Porque ris?
- Nada disso, sempre que lhe dou um bocado de cerveja ele desata a espirrar!

#27 D.C.

Há momentos, perante factos concretos, em que nada parece revelante.

Qual crise económica! Que treta é essa dos aumentos salariais? Há processos a arrastar-se penosamente na justiça? Directas ou não no PSD? As caricaturas de Maomé continuam a incendiar o Mundo? Que importa tudo isso?

O país real encarrega-se de nos mostrar que, mesmo à nossa porta, há factos inexplicáveis, demonstrativos de que nós, simples cidadãos, nada ou quase nada valemos para as instituições, o sistema de que tanto falava o outro (a propósito do chuto na bola, é claro).

Haverá alguma explicação plausível, minimamente razoável, para que um homem fique dez anos à espera de uma simples cirurgia? Um homem que, ainda por cima, até aceita a sua sina pacificamente, como se as coisas tivessem mesmo de ser assim...

#26 D.C.

Eu subscrevi.

Os que estiveram interessados podem seguir a ligação: http://liberdade.home.sapo.pt/


Como uma liberdade
- MANIFESTO -

Um conjunto de cartoons satíricos sobre Maomé originalmente publicados num jornal dinamarquês e republicados pela generalidade da imprensa ocidental fizeram eclodir uma impressionante onda de violência em alguns países islâmicos. Um ódio que assemelha a algo de irracional, inflamado nas multidões de rua, transformando-se assim na representação de uma vaga de barbárie.

Numa democracia, as opiniões só existem na medida em que existe igualmente liberdade para as exprimir, divergir e criticar. Em cada momento histórico, há um determinado universo de valores que só é dominante porque os sujeitos sociais os partilham de uma forma comum e plural. Em regimes autoritários, esse consenso é forçado por via de uma estrutura repressiva que se impõe aos cidadãos. Na generalidade dos países islâmicos, uma religião é aliada desse aparelho coercivo.

Plasmando-se ao poder político, as simbologias criadas por uma leitura dessa religião geram as próprias condições de reprodução do autoritarismo. Actualmente, a incapacidade de articulação de um discurso moderado no interior do Islão transforma essa realidade num cenário particularmente crítico. Afirmá-lo é constatar algo que só um proselitismo feroz pode confundir com preconceito ou xenofobia, sobretudo quando isso é valorizar todos aqueles que no terreno não cedem ao cativeiro do fundamentalismo islâmico. Em condições sempre dramáticas, tantas vezes assumindo o exílio ou a morte contra fatwas assassinas.

Há, no Ocidente, quem queira conscientemente evitar abordar o essencial. Porque é absolutamente irrelevante se os cartoons são ou não ofensivos, se são ou não ‘despropositados’. Não há aí matéria de discussão. Todos os dias nos deparamos na imprensa com opiniões ofensivas e/ou despropositadas. Por isso é que são opiniões. Por isso é que são publicadas em páginas de jornais. Por isso é que lhes podemos contrapor argumentos sem medo. E é tudo isso que nos enriquece enquanto membros de uma comunidade democrática, com opiniões que são tantas vezes execráveis mas nunca atentatórias da integridade de quem delas discorda.

Em 1689, John Locke escrevia na sua Carta sobre a Tolerância que «a tolerância […] aplica-se ao exercício da liberdade, que não é licença para fazer tudo o que se deseja, mas o direito de obedecer à obrigação, essencial a cada homem, de realizar a sua natureza». Mais de três séculos depois, ainda se justifica uma violência cega como legítima reacção à ‘blasfémia’. Quem o faz, aceita regredir na capacidade de afirmar o princípio da diferença como o princípio inalienável da realização individual, seja ela minoritária ou não na sociedade em que se insere. Daí a separação formal entre Estado e igrejas nos países democráticos, permitindo uma volatilidade dos laços morais que será tanto maior quanto a sua relação com a diversidade das práticas, das vivências e dos costumes.

Após o 11 de Setembro de 2001, a generalidade das discussões sobre este tema estão viciadas entre o radicalismo bélico e o militantismo relativista. Este documento é por isso um contributo para explorar uma alternativa a essa dicotomia, subscrito por cidadãos e cidadãs com percursos distintos e filiações políticas muito diversas, à esquerda e à direita, com ou sem religião, que têm leituras certamente opostas quanto ao terrorismo e à sua prevenção. Em comum têm porém a recusa na cedência de um conjunto de princípios que, no seu entender, poderão traduzir parte do património civilizacional ocidental. A começar pela liberdade de expressão, que pode e deve ser um valor universal.

Os apelos de governos europeus para a ‘responsabilidade’ no uso dessa liberdade de expressão são a metáfora de um complexo de culpa em relação a algum passado histórico do Ocidente que não pode ser esquecido. Mas que também não pode servir de intermediário a todas as leituras sobre o tempo presente. Qualquer vírgula colocada na liberdade de imprensa será um silêncio a mais. Pedir desculpa pela emissão de uma opinião livre publicada num jornal europeu será pedir desculpa pela Magna Carta, por Erasmo, por Voltaire, por Giordano Bruno, por Galileu, pelo laicismo, pela Revolução Francesa, por Darwin, pelo socialismo, pelo Iluminismo, pela Reforma, pelo feminismo. Porque tudo isso nos une na herança de um processo histórico que aparece agora criminalizado pela susceptibilidade de um dogma impositivo, incapaz de olhar o outro. Do mesmo modo que tudo isso nos separa daqueles que, sem concessões, reclamam uma superioridade civilizacional para a sua civilização. Qualquer que ela seja.

Os primeiros signatários,

Tiago Barbosa Ribeiro e Rui Bebiano
Porto e Coimbra, 9/2/06

sábado, fevereiro 11, 2006

#25 D.C.


Segunda-feira, dia 13 de Fevereiro, passam 100 anos do nascimento de um dos muito poucos verdadeiramente homens livres de Portugal: Agostinho da Silva. É tempo dos jornais assinalarem a efeméride, das rádios tirarem a poeira às bobinas antigas e das televisões oscilarem entre comportamento idêntico e o olímpico esquecimento. Para a memória ficam muitas ideias polémicas, ainda hoje actuais, e algumas franquezas (fraquezas?) assumidas como aquela que só comprava um certo diário de referência para ler a banda desenhada do Calvin & Hobbes...

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

#24 D.C.

A Sonae lançou uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) sobre a Portugal Telecom.
O país agitou-se, as cotações na bolsa subiram, os jornalistas da especialidade pareciam baratas nas televisões, nas rádios e nos jornais: foi um festim.

No dia seguinte, Miguel Horta e Costa vem responder que não, que a PT vale muito mais dinheiro e que, além do mais, o grupo até podia ter de ser desmantelado.

Fica-se a saber, hoje, que, afinal, Horta e Costa e o Governo não estão em sintonia.

Fica-se a saber ainda, hoje também, que o BES não vai a jogo.

Não percebo nada de economias, engenharias financeiras & outras coisas de tais, mas há perplexidades para as quais não encontro resposta:

– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? A Sonae? O Estado Português vai ajudar a Sonae, a maior empresa portuguesa, a transformar-se numa empresa ainda maior?
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? A PT? O Estado vai desbaratar as tão famigeradas “golden share” que, legais ou não, fazem da PT (coitadinhos de nós...) o maior grupo português?
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? Os portugueses que só têm telefone fixo? Será que as taxas vão deixar de ser cobradas? E os impulsos? Ficarão mais acessíveis?
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? Os portugueses que usam telefone móvel? Mas são as empresas (as PTs, as Sonaes e por aí fora...) os grandes consumidores, e pagadores, de telemóveis e respectivas contas...
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? Os que podem pagar TV Cabo, NetCabo? Será que vem aí a TV Digital? E para quem? Será que o acesso à Banda Larga vai ser efectivamente democratizado? A que preços? Os actuais? Ou os da Europa?

Resumindo, está a instalar-se devagar, devagarinho, que é para entranhar, a ideia de que a venda da PT é benéfica. Por razões de economia de espaço, até vou dar de barato que o seja. Muito bem. Assim seja. O Governo que autorize a venda. E, já agora, porque também estou cansado de ouvir falar no gravíssimo estado da economia portuguesa, que se despache também logo de seguida, pela melhor oferta, a Galp, a Tap, os Correios, a Caixa Geral de Depósitos, a RTP... e todas as outras que ficaram de fora e, na circunstância, não me recordo!

Pode ser que os portugueses voltem a ser mais felizes no dia em que ficarem sem país.

#23 D.C.













A liberdade de comunicação e de expressão é assunto demasiado sério.

Termos medo de falar, escrever, desenhar, só porque podemos eventualmente recear o que alguém possa, alegadamente, julgar de nós é demasiado mau.

Naturalmente, não estarei, a esta hora, na manifestação de solidariedade para com os dinamarqueses. Mas reproduzo um genuíno apelo cívico (extraído daqui), bem como as famosas 12 caricaturas que trouxeram ainda mais medo para algumas mentes ocidentais, ditas livres e democráticas. Até porque muitos, muitos mesmo, nem sabem de que imagens fala o Mundo todo.



"Na próxima 5ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho nº 14, em Lisboa. Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão.

Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI. Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos.

Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto.

Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre.

Não esqueçamos que a sátira – os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" – é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes".

Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.

(Ideia de Manuel João Ramos, Luísa Jacobetty e Rui Zink)"

terça-feira, fevereiro 07, 2006

#22 D.C.

Não resisti, e roubei-o direitinho daqui para aqui. É lindo!



Novembrina solene

Seu Zuzé, as tuas vacas, como estão?

Longe daqui,
subimos os morros

fomos procurar
a água que resta
do ano que passa.

Senhora Luna
a farinha

Está a secar.

Tarda a chuva
seca o milho

a lavra não vai medrar.

Tchimutengue, meu vizinho
então por cá?
Pois que vim te visitar
te avisar
que o meu gado vai passar
aqui por perto.

Tarda a chuva e é preciso
procurar o que lhe dar de comer
o que dar de beber

o capim está a ficar netro
está na hora de mudar.

Imigrante Silva, a tua mulher?

Está mal.

Que é do leite para lhe dar
a carne para lhe engordar?

E os filhos?

Estão magrinhos
doentados
vão ficar igual ao pai.

Que é da escola para lhes dar
sapatos para lhes calçar?

Dunduma amigo
Companheiro Chipa
Zeca Ernesto, Calembera,
olhai pelo gado.
Protegei os pastos.
Olhai pela vida das fêmeas
e pela saúde dos machos

Ruy Duarte Carvalho, in "Lavra" (Cotovia, 2006)

#21 D.C.

Na semana passada não queria discutir o casamento de homosexuais porque o assunto não era prioritário no conjunto das relevâncias políticas do pais. Anteontem disse que referendar a regionalização não é prioritário. Hoje já afirmou que é prematuro comentar a OPA sobre a PT. Mas haverá alguma coisa de que Marques Mendes queira falar?

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

#20 D.C.


Já fui acusado de, ultimamente, fazer oscilar os posts deste blogue entre dois temas: sexo e política. Na altura, sorri, e pensando no que me levou então a sorrir aqui fica algo definitivamente novo, uma imagem de Win Wenders que roubei na galeria de James Cohan e que me faz recordar tudo o que não está lá, coisas que nunca esquecerei.

domingo, fevereiro 05, 2006

#19 D.C.

"Pedaços d'1 tempo", de Pereira de Sousa, um fotógrafo do Porto que esteve sempre à frente do seu tempo.
Imperdível.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

#18 D.C.

Bolas!
O Euromilhões não quer nada comigo...
:-(

#17 D.C.

A Viagem aplaude.

#16 D.C.

















A publicidade anda de mão dada com o erotismo e o sexo, todos o sabemos.
Alguns anúncios são bem criativos, outros nem por isso.
No correio do dia, deixaram-me alguns exemplos dessa união, que às vezes é mais explícita, outras nem por isso.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

#15 D.C.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

#14 D.C.

Sócrates embandeirou em arco, anteontem, proclamando, feliz, que as escolas dos 1.º e 2.º ciclos estavam todas ligadas em banda larga. No dia seguinte, a Fundação para a Computação Científica Nacional diz que não... E agora, José? Em que ficamos?

Post scriptum: E meia hora depois uma interessante correcção. Para bom entendedor...

#13 D.C.


Diz a Lusa, hoje, que Peter Hammil vai actuar, no próximo dia 8 de Abril, no Festival Gouveia Art Rock. É o regresso de um dos grandes senhores do rock progressivo.