Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, setembro 28, 2006

Zorba, o cão que morreu de amor e saudade

Zorba nasceu no mato e aí cresceu acarinhado pelos tropas de uma companhia portuguesa em Angola, no tempo colonial. Aprendeu a viver ao lado e do lado dos militares e desenvolveu particularidades que faziam dele um cão respeitado, até pelo cruzamento de raças que faziam ele um bicho não muito grande, do tipo pastor alemão, mas com a força de um leão da Rodésia: uivava religiosamente à alvorada e ao recolher, rosnava e, sempre que podia, mordia nos negros angolanos, e passava o resto do tempo deitado, com o olhar posto lá longe, meio triste.

No fim da comissão militar viajou para Luanda com os seus companheiros de sempre, que sabiam carregar um problema, pois ninguém assumia que garantiria o destino do cão. Mas um familiar de um soldado que preparava as malas para regressar ao “puto” albergou o animal e a demanda foi rápida.

Nos dez anos que se seguiram, Zorba manteve o estilo mas teve uma vida diferente. Estava longe do quartel mas nunca falhou a hora do toque, encostou ao muro da casa vários negros aventureiros que se defendiam das investidas com as suas bicicletas e motorizadas, numa demonstração de racismo sem explicação razoável, e dormia, aterrava o focinho no chão e dormia, dormia talvez embalado pelos sonhos do mato, das corridas lentas e cautelosas dos tempos da guerrilha.

Embora amarrado na frontaria da casa a uma longa corrente de prender vacas e bois, sempre que lhe apetecia desatava os grossos elos de ferro com meia dúzia de puxões e lá ia ele tirar as vistas de miséria. Ninguém sabe por onde andava, apenas que regressava uma, duas semanas depois, magro e com um olhar mais tranquilo, eventualmente aliviado das usuais tensões animais. Deixava-se amarrar à corrente entretanto reparada, dócil, comia, bebia e voltava a dormir.

Na casa que também passara a ser sua, Zorba não tolerava fosse quem fosse que, por hipótese, falasse mais alto que os seus novos donos. Atravessava o corpo à porta da entrada, vigilante, e à saída, veloz, rosnava e ferrava os fundilhos do prevaricador. Com a brincadeira ainda mandou para o hospital um vizinho mais apaixonado por um clube de futebol diferente do dono da casa que ousou bater com a mão na mesa.

Também atravessava o corpo à porta da entrada sempre que a dona sofria mais com as suas enfermidades. Aflita com falta de ar e com o coração fraco, a mulher deitava-se numa espreguiçadeira, no varandim da entrada, porta aberta, e Zorba montava guarda. Assim foi noites e noites a fio, cacimbasse ou não, fizesse chuva ou não, com ou sem calor.

Cada vez mais doente, a dona teve de viajar para local mais recatado, na Europa, onde os médicos e a família a pudessem acudir em caso de necessidade. E, uma noite, dia 25 de Junho de 1975, o coração da mulher, muito fraco, recusou-se a bater mais. Nessa mesma noite, Zorba desatou a uivar de forma imprevista. A triste notícia ainda não tinha chegado pelo telefone já o cão uivava estranhamente, fora de horas e sem interrupção. Nessa mesma noite, Zorba deixou de se alimentar para todo o sempre, como se a greve de fome marcasse o mais veemente protesto contra a infelicidade que também o acometera. Zorba morreu de amor e saudade duas semanas depois, magro como um cão, rouco, com o olhar posto lá longe, profundamente triste.

domingo, setembro 24, 2006

Movimentos de beleza natural

Foto de Yuri Kadobnov (AFP)

sábado, setembro 23, 2006

Que canseira


A vida da realeza é muito difícil, cheia de protocolos, agendas preenchidíssimas & outras coisas, todas elas muito importantes, que nós, vulgares plebeus, nem sempre conseguimos alcançar.

Tudo isto porque o príncipe Carlos, herdeiro do trono britânico, tem por hábito escolher o seu ovo cozido de uma selecção de sete. Uma canseira, como se depreende, até porque os cozinheiros do príncipe estão empenhadíssimos em garantir o êxito da cozedura perfeita.

O relato pormenorizado (e sei lá que mais coisas fantásticas…) consta de um livro de um jornalista britânico, Jeremy Paxman de seu nome.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Makau ma mueniu para ti!


Orlando Castro, camarada e companheiro de Redacção, lança amanhã, às 16 horas, na Casa de Angola, em Lisboa, o livro “Alto Hama – crónicas (diz)traídas”, uma colectânea de artigos editados no “Notícias Lusófonas (http://www.noticiaslusofonas.com).

Como dizem os angolanos, um “makau ma mueniu” para ti!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Quando a Cultura vale zero

Deixar no banco do carro um relógio, um telemóvel ou, até, os óculos graduados é uma porta aberta ao assalto, e se as coisas correrem menos bem o prejuízo pode ir bem para além de um vidro partido e dos objectos roubados.
Há vários dias que tenho no banco da frente do carro um volume da Grande História Universal, coisa não muito barata, que tem mais valor comercial que alguns relógios, muitos telemóveis e, até, os óculos comprados por idosos na Multiópticas. Noite e dia.
Curiosamente, ninguém “pega”…
Não estou interessado em repetir amarga experiência antiga, mas sou levado a pensar que, no mercado paralelo, a Cultura vale zero.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Nunca digas nunca!