Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, novembro 23, 2006

Eu subscrevo!

Razões várias que não são para aqui chamadas trazem-me tarde para o debate. Mas ele, o debate, anda por aí, em forma de revolta e indignação substancialmente diferente da que levou outro, Santana, a escrever um livro ressabiado contra o melhor presidente da República Portugal desde 1974.

O debate refere-se ao anuncado encerramento da Caixa de Previdência e de Abono de Família dos Jornalistas e o fim do financiamento público a subsistemas de base profissional para cuidados de saúde.

O Sindicato dos Jornalistas lançou um manifesto que está aberto à subscrição. Eu subscrevo. E reproduzo.


MANIFESTO

CAIXA DOS JORNALISTAS - UM PATRIMÓNIO A DEFENDER

Preocupados com uma nova tentativa de encerramento da Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas (CPAFJ), os jornalistas declaram:

1. A CPAFJ faz parte do património dos jornalistas, não como um privilégio de classe, mas como um patamar de qualidade e de direitos que, não sendo o melhor que se poderia desejar, deveria constituir uma referência para todos os trabalhadores, pois a qualidade no apoio social e na saúde deve nivelar-se sempre por cima e nunca por baixo.

2. Criada em 1943, a CPAFJ reconhece a especificidade e importância de uma actividade constitucionalmente consagrada como estruturante do Estado democrático e tem constituído, há décadas, um factor de coesão, estabilidade e estímulo para uma classe que desempenha um papel social insubstituível.

3. O facto de os jornalistas disporem de um subsistema de Saúde significa que o Estado tem em conta, há décadas, as especificidades da nossa profissão, designadamente jornadas intensas e prolongadas e informalidade de horários, com fortes impactos na saúde e na qualidade de vida destes profissionais, como demonstra a significativa prevalência de stress e de doenças do foro cardíaco, desgaste rápido e até morte precoce. Esta situação agravou-se nos últimos anos, com a crescente precariedade, um extraordinário aumento dos níveis de exigência, polivalência e de disponibilidade.

4. O subsistema de saúde dos jornalistas tem sido ciclicamente posto em causa, por alegado elitismo e por ser pretensamente gravoso para o orçamento da Saúde. Mas a verdade é que, não obstante os níveis de comparticipação nas suas despesas serem superiores aos concedidos à generalidade dos trabalhadores, não só se tem pago a si próprio como tem contribuído para o orçamento geral da Segurança Social.

5. A existência da CPAFJ volta agora a ser posta em causa, com o Governo a pretender eliminar uma instituição paradigmática que, tendo algumas dificuldades de funcionamento, está longe de esgotar as suas potencialidades e virtualidades, podendo e devendo adaptar-se às novas realidades de uma classe em permanente mutação e com novos problemas, fruto das profundas alterações registadas no sector da comunicação social.

6. Os jornalistas signatários manifestam-se empenhados na defesa da sua Caixa e estão disponíveis para bater-se por ela.

Novembro de 2006

quarta-feira, novembro 15, 2006

Resistir pela Caixa!

Por via de uma decisão política há algum tempo anunciada, o Governo começou a dar hoje a estocada final na Caixa de Previdência e de Abono de Família dos Jornalistas, com o secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, a anunciar para 1 de Janeiro de 2007 o fim do financiamento público de subsistemas de base profissional para cuidados de saúde.

Na prática, a decisão implica o fim do direito que os jornalistas têm à comparticipação nas despesas de saúde e à livre escolha de médicos e exames. A ideia é antiga, nivelar por baixo, colocar-nos a todos, cidadãos, jornalistas ou não, na fila do Centro de Saúde da área da residência. Algumas vozes chamam a isto o fim de privilégios antigos. Classificaria a decisão de outro modo, mas temo ser excessivo e por isso refreio-me.

Há males que vêm por bem, e esta pode ser uma dessas situações. Talvez tenha chegado a altura de toda a classe jornalística saber unir-se na defesa dos seus interesses, a manutenção da Caixa de Previdência e de Abono de Família dos Jornalistas e, por tabela, da própria Casa da Imprensa-Associação Mutualista, que depende, em grande medida, do financiamento da primeira nos cuidados de assistência à saúde e doença dos seus associados.

Adenda

Com tudo isto, esqueci-me da "Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida". E ao tema regresso porque não consegui entender o que o Orlando Castro pretende dizer. Talvez o próprio me auxilie...

Coisas de angolanos


Há dois dias que mantenho com o Orlando uma animada (e divertida…) discussão (por escrito e verbal) sobre se a questão da pele é, ou não, importante, para se chegar onde, afinal, todos queremos: uma sociedade mais justa e equilibrada para brancos/negros/mestiços/vermelhos/castanhos/às-bolinhas/ou às-riscas. Isto só é possível entre angolanos que tiveram de deixar a sua terra em condições muito pouco favoráveis, porque para quem nada disso teve de viver, felizmente, escreve logo que a conversa não passa de uma discussão do sexo dos anjos. E, bem vistas as coisas, o Pedro até acaba por ter razão.

Ontem, o Orlando insistiu na peleja rácica, e confesso que fiquei possesso (salvo seja!), porque para um angolano tão interessado (que não eu, diga-se) entendo que há matéria bem mais interessante para reflectir. Além de que discordo frontalmente de coisas escritas no Alto Hama que, para mim, roçam a leviandade pura. “Africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher de limpeza” é um exemplo. “De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, a confundir a estrada da Beira com a beira da estrada” é outro exemplo.

Vamos por partes. Tal como sucede com Viagens pela rua da amargura, Alto Hama é um blogue de um jornalista português nascido em Angola.
Mais do que isso. “Alto Hama é, tal como a localidade, um cruzamento que dá acesso a todos os pontos de vista. No entanto, se a minha liberdade termina onde começa a dos outros, também a dos outros termina onde começa a minha”, escreveu o Orlando no seu primeiro post. Agrada-me o cruzamento de pontos de vista, imagino quatro idiotas (atenção: pessoas que têm ideias…) a chegarem ao mesmo ponto, sentarem-se e a conversarem/discutirem do que lhes aprouver sendo que este não tem uma ideia comum aqueloutro. Agrada-me menos a história da minha liberdade e a da liberdade dos outros, porque é uma frase tão gasta no tempo que só me ocorre mais um lugar comum: o que hoje é verdade, amanhã…

Nem sempre concordo com o que o Orlando escreve, nem a isso era obrigado. Acho graça ao atrevimento dos seus escritos, por vezes, ao seu desplante, por outras. Também torço o nariz a alguns dos seus raciocínios, e só espero que ele faça o mesmo comigo!

Para quem demonstra – com o seu trabalho, o seu pensamento, no dia-a-dia, sempre, até no toque do telemóvel… – tão resoluto empenhamento na questão angolana, podia – apetece-me escrever devia! – preocupar-se com outras questões para além da problemática rácica. Não é que o Orlando não o faça, basta dar uma vista de olhos rápida pelos títulos dos seus post para se perceber que assim é, de facto. Também é verdade que o “Alto Hama” não vem apenas desde Agosto. Só que há um milhão de assuntos e interrogações relativas à sociedade angolana que ele podia tratar, e nem sempre o faz. Como eu gostaria, mesmo discordando da sua abordagem.

Aqui ficam algumas pistas, sem qualquer preocupação de as inventariar de A a Z, ou com qualquer outra coerência lógica:

  1. o que é que está a ser feito em matéria de paz e de reconciliação nacional?
  2. o que é que está a ser feito em matéria de estabilidade política?, e de reforço da coesão nacional?
  3. há estabilidade macro-económica?
  4. a pandemia da sida ameaça, ou não, ser uma questão de segurança nacional?
  5. qual é o ponto da situação no domínio da recuperação das infra-estruturas económicas?
  6. qual é o ponto da situação no domínio da promoção do crescimento económico no sector não petrolífero?
  7. a valorização dos recursos nacionais, hoje, não passa, em exclusivo, pelos há anos chamados países de Leste; vantagens e desvantagens dessa deriva;
  8. para quando eleições gerais?, até quando pode o regime prolongar a actual situação?; porque o faz?
  9. a administração do Estado e da Justiça está presente em todo o território angolano?
  10. como resolver, ou proporcionar a sua resolução, da instabilidade na província de Cabinda?

Aqui chegado, deixa-me dizer-te, camarada Orlando (porque é assim que trato todos os meus companheiros de profissão…), que rejeito liminarmente qualquer tentação do tipo os que me estão próximos é que são bons, os outros são os maus da fita. Por outras palavras: nem toda a gente do MPLA alinha cegamente pelo regime, tal como nem toda da UNITA alinha cegamente pelo que lhe é vendido pela sua direcção política, e por aí adiante.

Mas vou falar-te de coisas concretas, objectivas, daquelas que o povo entende. Não falarei em nomes de pessoas, porque, reconheço, me é confortável, mas abro uma única excepção. Luandino Vieira lançou, ontem, em Luanda, “O Livro dos Rios” – o primeiro de uma trilogia denominada “De Velhos Rios e Guerrilheiros” –, e ao fim de tantos anos de silêncio criativo de um dos grandes nomes vivos da literatura angolana (sim!, ela existe!!!) e um dos maiores de língua portuguesa, não há blogue que lhe pegue! Porquê? Será que este branco do MPLA paga a factura ideológica da pele na sua própria terra?

A requalificação da marginal de Luanda vai custar ao Estado 135 milhões de dólares. Alguém se interrogou sobre o significado de 30 anos de abandono total?

A TAAG teve de suspender algumas das suas linhas internacionais por falta de manutenção dos seus aviões. Alguém consegue explicar como pode isto estar a acontecer?

Há dias Luanda recebeu mais um banco comercial. Alguém já disse quantos bancos comerciais tem Angola e o que isso pode significar?

Angola tem recebido dezenas de toneladas de soro de farmacêuticas internacionais para combater o surto de cólera que assola o país? Alguém se interroga sobre tão generosa oferta?

O ministro da Geologia e Minas, Mankenda Ambroise, descobriu, muito recentemente, que "Angola detém um considerável potencial e grande variedade de recursos minerais, entre os quais, além dos diamantes, o ouro, as pedras preciosas, semi-preciosas, agro-minerais, metais básico, cobre, rochas ornamentais, materiais de construção de origem mineira (inertes), minerais industriais, minérios de ferro e manganês, águas subterrâneas minerais e minero-medicinais" e que era chegada a hora de relançar a indústria mineira. Só agora? Então o que é que se andou fazer nos anos mais recentes de paz?

A Justiça é outra área muito, muito sensível, nem vale a pena explicar porquê. Mas alguém se preocupa com as prisões sobrelotadas? Isto para não falar do modo discricionário como o poder judiciário actua, é claro…

Não vou arvorar-me em grande descobridor da verdade angolana, mas alguém já paraste 60 segundos para pensar no que significa o elevadíssimo interesse chinês em Angola? Estaremos a assistir à exportação para África do chamado “socialismo do mercado”? Será que ainda não percebeste que podemos estar a viver a recolonização de Angola?

Meu caro, podia ainda falar-te da débil classe empresarial; da administração pública sobredimensionada e viciada no sistema de direcção centralizada agora em desuso; no sistema financeiro absolutamente incipiente; no excessivo peso do sector empresarial público na economia; na carência geral de infra-estruturas; na ineficácia dos sectores sociais; na gravíssima situação no sector da educação; na importância fulcral que representa a urgente revitalização da frota pesqueira nacional e artesanal; na necessidade de integrar o sector “informal” do comércio na economia formal de tributação fiscal; na importância do desenvolvimento do turismo como fonte magnífica de receitas; na necessidade de assumir que as obras públicas constituem, em simultâneo, um poderoso meio de combate ao desemprego ou de criação de emprego e um modo de potenciar o crescimento económico do país; no inadiável redimensionamento da organização e funcionamento das políticas de ciência e tecnologia; da imprescindível recuperação das infra-estruturas de saúde tornadas inoperacionais pela guerra, além da gritante falta de quadros habilitados nesta área – por muito que te custe a crer, possuo abundante material sobre estas questões e até podia produzir um post bem fundamentado sobre qualquer uma delas…

Podia, ainda, falar-te de coisas que sei serem-te caras, como as 100 mil crianças separadas das suas famílias, os 50 mil órfãos abandonados, os 3,5 milhões de deslocados das suas áreas de residência por força da guerra e exclusivamente dependentes da ajuda humanitária.

Mas não o farei. O texto vai demasiadamente longo, a hora já é inoportuna. E tudo isto para te dizer, simplesmente, que há “éne” coisas mais urgentes a tratar que o distante problema do branco/negro/mestiço/vermelho/castanhos/às-bolinhas/ ou às-riscas (sem nunca perder de vista, é claro, os factos históricos).

Como tu próprio dirias, kandando…

sábado, novembro 04, 2006

Atropelamento seguido de fuga

Quem matou o coelho do Gonçalo?

quarta-feira, novembro 01, 2006

Não quebre esta corrente!

Passe o link deste post a, pelo menos, 100 dos seus contactos e verá que a vida lhe correrá muito melhor, no amor, no dinheiro e na saúde. Não quebre esta corrente, pois só assim estará garantido o seu êxito!

Onde é que esconderam os caramelos com cobertura de chocolate do Damião?