Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

terça-feira, junho 19, 2007

Terrorismo propagandístico




Com o dinheiro que é de TODOS nós, a Câmara Municipal do Porto (CMP) continua a fazer terrorismo propagandístico.

Anteontem, a CMP resolveu mimosear David Pontes, director-adjunto do “Jornal de Notícias”, com um vídeo de autoria anónima e por ter “participado activamente na manifestação contra Rui Rio à porta do Rivoli”. O delito cometido, pelo que é dado a ver, limita-se ao facto de David Pontes ter estado presente na Praça D. João I e empunhado um “R” desenhado num papel.

O que está aqui em causa, naturalmente, é saber se o exercício da profissão de jornalista limita, ou não, os direitos de cidadania (para além das limitações legais, como é óbvio). Para mim, só há uma resposta, e inequívoca: um jornalista é um cidadão como qualquer outro, não tem mais, nem menos, direitos. E ponto.

Perguntar-se-á, então, se, no exercício de determinadas funções, o cidadão em causa devia, ou não, ter tido uma postura mais recatada? Talvez, digo eu, depende dos casos e, sobretudo, depende do temperamento de cada um. Como é que se pode dizer a um cidadão que também é jornalista para ficar cego, surdo e mudo, pelo único facto de se tratar de um director-adjunto de um jornal, mesmo se à frente dos seus olhos está a ser cometida uma atrocidade? Não sendo as páginas desse mesmo jornal instrumentalizadas pela opinião do cidadão/jornalista/director-adjunto em causa, continuo sem perceber o alcance de tanto incómodo por parte da CMP. Até porque David Pontes não encabeçou manifestação/protesto algum, não! (revejam-se as imagens, por favor). A menos que um cidadão investido em funções de direcção num jornal se transforme, por esse simples e único facto, num eunuco acéfalo e acrítico que só pode opinar sobre futebol (e isto porque sobre Fátima não se opina…).

Mas será que a presença no protesto de quinta-feira passada do cidadão/jornalista obriga, vincula, a instituição JN e quem lá trabalha, já que o cidadão e um dos seus directores-adjuntos são uma e a mesma pessoa? Pela parte que me toca, não, e estou tanto mais à-vontade para o escrever quanto não é menos verdade a minha total e absoluta discordância com textos saídos do computador de David Pontes (e de outros jornalistas com responsabilidades na hierarquia do JN), como um recente, por exemplo, em que defendia a inexistência de uma “clima de medo” nas redacções… Essa questão é uma falácia tão grande como argumentar, por exemplo, que o apaixonado por “dinky toys” cidadão Rui Rio é outro indivíduo que não o presidente da CMP, Dr. Rui Rio, e que todos os trabalhadores da CMP, tal como Rui Rio, Dr. ou não, sempre gostaram de circuitos automóveis e são sócios do Boavista F.C. desde pequeninos!

Neste caso concreto, David Pontes foi honesto e transparente. E por isso o director-adjunto/jornalista/cidadão deve ser aplaudido, não pode ser criticado por tamanha ousadia. Ou será que esse é o preço a pagar pelo atrevimento de ter participado num protesto de cidadania contra uma decisão do poder instalado? É evidente que, daqui para a frente, os seus textos, no JN e no seu blogue, serão esmiuçados até ao tutano, na procura de ligações conspirativas e cabalísticas…

E os resultados dessa pesquisa encontrá-los-ei num site de que também sou accionista…

7 Comentários:

Às 6:27 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Concordo com a tua reflexão e apoio o David Pontes que, no meu entender, ali se apresentou como cidadão. Não tinha certamente o logo do JN estampado na testa, nem siglas a identificar o cargo ou profissão ou medalhas de honra ao pendurão. Por isso só quem o conhecia saberia de quem se tratava. Portanto, a CMP agiu com má fé.
Às tantas até havia mais jornalistas pelo meio e ninguém sabe.

 
Às 6:40 da tarde , Blogger Viagem pelas ruas da amargura disse...

Havia sim, S, mais jornalistas pelo meio, mas esses foram ignorados pela CMP. Porque será? Aliás, espero que esses jornalistas tão desprezados pela CMP manifestem a sua indignação...

 
Às 2:31 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

A paródia ao autoritarismo do Rui Rio já está nos blogues:
http://oqueridolider.blogspot.com

Toca a divulgar e a participar!

 
Às 3:10 da tarde , Blogger altohama disse...

Poucos são os que dizem que se é jornalistas 24 horas por dia. A esmagadora maioria só o é sete ou oito horas por dia. Fora desse horário, passam – dizem – a ser cidadãos comuns. Esse horário é, contudo, um pouco elástico consoante as necessidades pessoais. Se se for multado dá um certo jeito dizer que se é jornalista e não apenas um cidadão comum. Por outras palavras, sempre que for conveniente é-se jornalista. Mas só quando for conveniente. Em que posição escrevo isto? Depende. Se me der jeito é como jornalista, se não der é como cidadão…

 
Às 5:02 da tarde , Blogger Viagem pelas ruas da amargura disse...

Que grande confusão, camarada/companheiro/amigo de luta OC!

Vamos por partes. 24 horas somos, antes de tudo o mais, cidadãos, quer se goste ou não; só depois de sermos cidadãos é que podemos ser, cumulativamente, jornalistas, padres, operários da construção civil, médicos, etc., etc.. Quando acordo, pela manhã, sou o mesmo cidadão ensonado e rezingão que o vizinho do lado, não sou jornalista... Se escrever um poema, garanto que é o cidadão que o redige, não o jornalista... E, por fim, garanto que sempre que votei, em todos os actos eleitorais em que participei, fi-lo enquanto cidadão... Se calhar, pelo facto de ser jornalista devia ter abdicado dos meus direitos... Será isso? Não concordo!

O conceito "elástico" a que te referes não o entendo, nem NUNCA o exerci. Por outras palavras: nunca me apresentei como sendo jornalista à excepção das situações em que se aplicava a condição profissional; nunca fui ao futebol, ao cinema, NUNCA safei uma multa de trânsito invocando a profissão. De resto, no momento em que um agente diligente passava o respectivo convite para o "baile da Polícia", até ouvi dizer um "então pode pagar" depois de me ter perguntado a profissão... Não sou jornalista por conveniência, esta é a minha ocupação profissional por opção. Para quem não sabe, ter-me-ia sido muito mais fácil manter-me numa Repartição de Finanças a receber declarações disto-e-daquilo, a comodidade era tanto maior que hoje folgaria de prazer e gozo, no final de cada mês , com o que o Estado depositaria na minha conta bancária...

Por fim. O comentário não é do jornalista. É MESMO do cidadão, tal como o blogue...

 
Às 5:10 da tarde , Blogger Viagem pelas ruas da amargura disse...

Independentemente de tudo o mais, querem saber o que era realmente MUITO GRAVE? Era se David Pontes não soubesse que tem o DIREITO de participar num protesto, seja ele qual for. E tem esse DIREITO desde 1974...

 
Às 5:48 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Caramba! Nunca tirei desse tipo de "partidos" devido à profissão. As poucas (felizmente) multas que recebi, puxei da carteira. Não sou mais do que os outros.

Quanto à cultura, continuo a achar que os jornalistas - porque há muitos que são muito mal pagos - deveriam ter acesso livre ou descontos sérios (teatro, cinema, exposições, etc.). É que a cultura, faz parte da profissão.

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial