Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

#24 D.C.

A Sonae lançou uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) sobre a Portugal Telecom.
O país agitou-se, as cotações na bolsa subiram, os jornalistas da especialidade pareciam baratas nas televisões, nas rádios e nos jornais: foi um festim.

No dia seguinte, Miguel Horta e Costa vem responder que não, que a PT vale muito mais dinheiro e que, além do mais, o grupo até podia ter de ser desmantelado.

Fica-se a saber, hoje, que, afinal, Horta e Costa e o Governo não estão em sintonia.

Fica-se a saber ainda, hoje também, que o BES não vai a jogo.

Não percebo nada de economias, engenharias financeiras & outras coisas de tais, mas há perplexidades para as quais não encontro resposta:

– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? A Sonae? O Estado Português vai ajudar a Sonae, a maior empresa portuguesa, a transformar-se numa empresa ainda maior?
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? A PT? O Estado vai desbaratar as tão famigeradas “golden share” que, legais ou não, fazem da PT (coitadinhos de nós...) o maior grupo português?
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? Os portugueses que só têm telefone fixo? Será que as taxas vão deixar de ser cobradas? E os impulsos? Ficarão mais acessíveis?
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? Os portugueses que usam telefone móvel? Mas são as empresas (as PTs, as Sonaes e por aí fora...) os grandes consumidores, e pagadores, de telemóveis e respectivas contas...
– A concretizar-se, a venda será benéfica para quem? Os que podem pagar TV Cabo, NetCabo? Será que vem aí a TV Digital? E para quem? Será que o acesso à Banda Larga vai ser efectivamente democratizado? A que preços? Os actuais? Ou os da Europa?

Resumindo, está a instalar-se devagar, devagarinho, que é para entranhar, a ideia de que a venda da PT é benéfica. Por razões de economia de espaço, até vou dar de barato que o seja. Muito bem. Assim seja. O Governo que autorize a venda. E, já agora, porque também estou cansado de ouvir falar no gravíssimo estado da economia portuguesa, que se despache também logo de seguida, pela melhor oferta, a Galp, a Tap, os Correios, a Caixa Geral de Depósitos, a RTP... e todas as outras que ficaram de fora e, na circunstância, não me recordo!

Pode ser que os portugueses voltem a ser mais felizes no dia em que ficarem sem país.

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