#22 D.C.
Não resisti, e roubei-o direitinho daqui para aqui. É lindo!
Novembrina solene
Seu Zuzé, as tuas vacas, como estão?
Longe daqui,
subimos os morros
fomos procurar
a água que resta
do ano que passa.
Senhora Luna
a farinha
Está a secar.
Tarda a chuva
seca o milho
a lavra não vai medrar.
Tchimutengue, meu vizinho
então por cá?
Pois que vim te visitar
te avisar
que o meu gado vai passar
aqui por perto.
Tarda a chuva e é preciso
procurar o que lhe dar de comer
o que dar de beber
o capim está a ficar netro
está na hora de mudar.
Imigrante Silva, a tua mulher?
Está mal.
Que é do leite para lhe dar
a carne para lhe engordar?
E os filhos?
Estão magrinhos
doentados
vão ficar igual ao pai.
Que é da escola para lhes dar
sapatos para lhes calçar?
Dunduma amigo
Companheiro Chipa
Zeca Ernesto, Calembera,
olhai pelo gado.
Protegei os pastos.
Olhai pela vida das fêmeas
e pela saúde dos machos
Ruy Duarte Carvalho, in "Lavra" (Cotovia, 2006)
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