Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

#33 D.C.

Estava à conversa com Kopomir Taskov – famoso escaquista, como muitos saberão – quando, de súbito, ele me recordou a primavera marcelista. Fui ao Google e encontrei o seguinte texto que lhe enviei:


“PRIMAVERA MARCELISTA
ESTADO SOCIAL
Para substituir o Dr. Oliveira Salazar, o Presidente da República escolheu o Professor Doutor Marcello Caetano. Era Professor de Direito, reitor da Universidade de Lisboa, considerado um democrata e um homem de inteligência e honestidade invulgares.
Imediatamente acaba com a polícia política, a PIDE. Mais tarde substituída pela DGS, para defesa do Estado.
Abre-se a esperança para a oposição. Agora, com Marcello Caetano, liberal, avesso a violências e pacificador, que abria a porta e os braços aos exilados, tudo parecia ir correr bem. Mas ainda em 1968 é preso o padre Felicidade Alves, pároco de Belém e em 1970 o padre Mário de Oliveira da Lixa, por contestarem a política Ultramarina. Neste ano, morre Salazar.
A Primavera Marcelista, como ficaram conhecidos os primeiros anos do Professor Marcello Caetano, saldou-se pelo progresso, uma melhoria social com a atribuição de pensões aos trabalhadores rurais e às profissões mais modestas.
Através das "Conversas em Família" na RTP, o Prof. Marcello Caetano, explicava ao país as medidas que o Governo tomava e tudo parecia sossegado.
Os planos quinquenais de fomento continuaram. O desenvolvimento do país era uma realidade. Mas havia necessidade de uma abertura política que permitisse a formação de partidos políticos. Marcello Caetano sabia-o e tentou tudo para o conseguir.
Em 15 de Maio de 1972, o jornal de "Economia e Finanças" advoga a não entrada na CEE, em virtude de, ao fazê-lo, sermos obrigados a abandonar o Ultramar. A 12 de Outubro é morto pela DGS o estudante José António Ribeiro dos Santos. A 30 de Dezembro, um grupo de católicos ocupa a capela do Rato e aprova uma moção contra a guerra colonial. A DGS invade o templo; muitos são presos e o padre Alberto Neto, responsável pela capela, é exonerado das suas funções.
O período de graça esfuma-se.
Marcello pede a exoneração do cargo ao Presidente da República, este não aceita.
A 13 de Julho de 1973, Marcelo Caetano autoriza os oficiais milicianos a passar aos quadros permanentes. Os oficiais de carreira não gostam do Decreto. Deste descontentamento, motivado pela progressão nas carreiras e seus respectivos vencimentos, irá nascer o 25 de Abril.
A 23 de Fevereiro de 1974 o general Spinola publica o livro "Portugal e o Futuro" onde advoga a adesão à CEE, o fim da guerra do Ultramar e a constituição de uma federação de Estados.
Os militares sentem-se apoiados.
A 16 de Março de 1974 dá-se um levantamento militar que partiu das Caldas da Rainha, mas que abortou.
A 1 de Abril de 1974, O Prof. Marcelo Caetano assiste, em Alvalade, ao jogo Sporting - Benfica. A multidão ovaciona-o efusivamente. Ele, que já tinha pedido, de novo, a exoneração do cargo, alegando razões de saúde, fica emocionado.
A 17 de Abril, o ministro do Ultramar, Dr. Rebelo de Sousa, faz sair uma portaria que tornava extensiva, a Lei Nº 5/73 (reforma do sistema educativo) às províncias de além-mar.
A 25 de Abril de 1974, o Regimento de Santarém, comandado por Salgueiro Maia, avança sobre Lisboa, Marcelo Caetano é informado sobre o que está a acontecer, não tem coragem de o impedir. Pensou que assim seria mais fácil resolver o problema do Ultramar e fazer reformas urgentes com a anuência de diferentes partidos políticos tendo como padrão uma democracia de tipo ocidental. Julga poder continuar no país. Spínola pede-lhe que siga para a Madeira com o Presidente Américo Thomás. Este acusa-o de não ter querido evitar o que aconteceu. Cortam relações. No Funchal compreendeu que as condições não lhe permitiam continuar a colocar a sua inteligência ao serviço da Pátria. Morreu no Rio de Janeiro, amargurado e revoltado com a cegueira e a ingratidão dos homens.
Em carta que me dirigiu, datada de 2.XI.78, vinda do Rio de Janeiro e publicada em 1993 no livro "Crónicas da Província e Intervenções Parlamentares" pags, 14 e 15. Edição de "A Província", e hoje em http://www.cunhasimoes.net ao responder à minha pergunta: por que aceitou ser Primeiro Ministro e lá continuar, a certa altura diz: "...foi isso que me permitiu aguentar cinco anos e meio o regime e fazer um esforço para salvar o que fosse possível, no meio da cegueira dos políticos, da recusa de colaboração dos adversários ou dos reticentes, do egoísmo dos capitalistas, da estupidez da alta burguesia, das ilusões dos intelectuais irresponsáveis, da manobra da Igreja preocupada em não perder algum comboio vindouro e a braços com o problema ultramarino que no país a direita se recusava a compreender da única forma possível e que a ONU não deixava resolver pela única maneira que seria admissível para Portugal..."
Vê-se, por este pequeno extracto, quanto se sentia amargurado, frustrado e desiludido com a incompreensão dos homens. Não quis regressar à Pátria. Repousa em terras Brasileiras. Viver e morrer no Brasil é tão apaixonante como viver e morrer em Portugal. A língua abraça-nos e encata-nos. A eternidade aceita-se com menos esforço. ”




Mas aqui chegado, fiquei desmemoriado... Porque será que ele me falava da "primavera marcelista" em tempos de democracia, justiça e liberdade?

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