José Gomes Bandeira (1937-2006)
Agora partiu o Bandeira. O “Bandeirinha”.
O “Bandeirinha” – assim era tratado por um pequeno grupo de jornalistas estagiários que com ele conviveu e aprendeu pequenas histórias da chamada crise académica – tinha um feitio muito particular. Arrisco que, para alguns, tinha mesmo mau feitio, era irascível.
Mas não. O “Bandeirinha” era um homem culto, que sabia ter de aprender todos os dias um bocadinho mais para tentar ser o que sempre fora: um Homem. Por isso, devorava cinema, consumia e anotava livros (que não gostava de emprestar…), interessava-se pela história cultural da sua segunda cidade (o Porto), estudava para melhor apreciar os vinhos que bebia e aconselhava, analisava em detalhe os alimentos com que confeccionava uma refeição, por muito simples que fosse. Sabia ouvir, mas exigia respeito. Gostava que o ouvissem, também, e quando assim não era sentia a desconsideração como a mais funda das punhaladas. Indignava-se.
O “Bandeirinha” era, afinal, um perfeccionista. O rigor e o respeito pelo outro foram as suas obsessões. Preocupações éticas nobres que, com o tempo, parecem caídas em desuso.
Vou entrar no Ano Novo mais pobre.
1 Comentários:
...e eu também, que só no último dia do ano recebi a notícia.
O Bandeira foi também um dos que me acolheu quando cheguei ao JN em finais dos anos 1980.
Um homem cordato, afável e disponível - em claro contraste com muitos dos que viam em nós (os primeiros 'doutores' em jornalismo a chegar à redacção) uma ameaça.
Percebi nele algo que a profissão me ensinou com o passar do tempo...que há dias em que tudo parece banal e que há dias em que nos sentimos nos píncaros (mesmo que seja uma coisa só nossa e que aconteça por causa de um texto que amanhã é já lixo e que nenhum dos nossos amigos ou familiares leu).
Sinto-me privilegiado por tê-lo conhecido.
luis santos
http://www.atrium.wordpress.com
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