Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, junho 02, 2005

O curto-circuito da Boavista



O dr. Rui Rio tem todo o direito de gostar de automóveis. E, por isso, quer reviver o famoso Circuito da Boavista. Eu também gosto de automóveis, também tenho esse direito. E, na altura própria, irei, ou não, ver as corridas.

Mas levar por diante um gosto pessoal com um arrepio assustador de obras, à revelia de todos os projectos aprovados, sem concurso público, contornando os habituais estudos de impacte ambiental – como, muito bem, ainda hoje, Rogério Gomes assinala em “O Comércio do Porto” –, isso não.

E depois do corre-corre alucinado para ter a “pista” pronta a tempo, os portuenses ainda vão ter de chupar outra pastilha: a desmontagem do circo antes das eleições autárquicas. Ou será que é mesmo para ficar tudo na mesma?

Mas os peões que se cuidem, para não entrarem em curto-circuito. Nem que tenham de esperar pelo autocarro no meio da rua...


Post-scriptum: o link de "O Comércio do Porto" não funciona directamente para o editorial de Rogério Gomes. Porque assim é, aqui fica o texto:

"O Grande Prémio não pode custar milhões à Câmara do Porto?

Os serviços de propaganda da Câmara Municipal do Porto insultam "O Comércio do Porto", acusando este jornal de mentir deliberadamente quando afirma que a recriação do Grande Prémio de Fórmula 1 no circuito da Boavista pode custar milhões à edilidade. Para lá da baixaria de o presidente da Câmara permitir (ou ordenar) que um texto deste teor seja publicado na página de Internet da edilidade, num espaço que devia ter outra dignidade que não a de órgão de propaganda do senhor presidente, o dr. Rui Rio teve oportunidade de responder a esta e a outras questões relativas ao mesmo assunto no final da reunião camarária de terça-feira. Como de outras vezes, quando as questões são um pouco mais difíceis ou está um pouco mal disposto, escusou-se.

É uma opção, mas seria de esperar que ontem, no exercício do seu direito mas também da sua obrigação, dissesse das suas razões, oralmente ou por escrito. Mais uma vez, pelo menos a O COMÉRCIO e apesar de questionado, disse nada. Preferiu deixar (ou ordenar) que um qualquer seu escriba fizesse aquela "obra prima" numa montra da edilidade.

Mas, adiante:
Os jornais de 18 de Novembro de 2004 noticiavam a abertura de um concurso público da empreitada para resolver o problema das inundações do parque de estacionamento do Castelo do Queijo, por parte da Empresa de Gestão de Obras Públicas da Câmara do Porto (GOP). Dizia a autarquia que a urgência da obra tinha a ver com a "proximidade do Inverno" e acrescentava que se aproveitaria ainda para avançar com a requalificação urbana da avenida, seguindo o plano de levar o metro avenida abaixo em direcção a Matosinhos.

Soube-se também que uma semana antes a Câmara do Porto, presidida pelo dr. Rui Rio, e a Metro do Porto, presidida em regime de substituição pelo mesmo dr. Rui Rio, tinham assinado um protocolo em que a Metro se compromete a aceitar e a financiar a obra de requalificação na avenida.

A oposição reage. Para Rui Sá (CDU), trata-se de pôr o "carro à frente dos bois", ao mesmo tempo que se queixa de que o projecto nunca foi conhecido da Câmara; por seu lado, Manuel Diogo (PS) releva a ausência de informação e critica a "forma autocrática como Rui Rio leva as suas ideias avante sem dar cavaco a ninguém", depois de questionar sobre se o presidente da Câmara "tem receio que a cidade conheça o que anda a fazer ou, então, não se percebe".

Fazendo a vontade à oposição, o presidente em exercício da Metro do Porto à altura, dr. Rui Rio, e o presidente da Câmara do Porto, o mesmo dr. Rui Rio, estiveram no dia 23 de Novembro passado na apresentação da futura linha "laranja" do Metro, que devia percorrer a Avenida da Boavista; na mesma sessão, Siza Vieira e Souto Moura assumiam o projecto de requalificação da avenida.

Como verificamos, em toda a comunicação da Câmara, até esta altura, nem sinal de Grande Prémio, de desfile de carros antigos ou de Circuito da Boavista...

Duas semanas depois (hélas!), o presidente da Câmara dr. Rui Rio anuncia as corridas do Circuito da Boavista - a recriação do circuito implicou alterações ao projecto de Siza Vieira e Souto Moura, "pequenas, na ordem dos 10 centímetros em termos de medidas de passeios ou vias", explicou o edil, que informou que tudo tinha sido pensado com antecedência para preparar a cidade para o regresso das corridas, garantindo ainda que "as obras de requalificação da Boavista estarão concluídas antes do final de Junho do próximo ano" a tempo portanto do Grande Prémio.

Manuel Diogo tinha, talvez inadvertidamente, posto a questão certa na reacção ao anúncio do concurso público - "não se percebe". De facto, sem a informação essencial, a da vontade de Rui Rio realizar o Circuito da Boavista, ninguém podia perceber nem o repentismo nem o aperto dos prazos definidos - Setembro seria, por exemplo compreendido face às eleições autárquicas... Agora, Junho!

Percebeu-se, finalmente, a urgência. E até ficaram para trás questões como o arranjo da Rua da Vilarinha, do troço final da Circunvalação e as obras para a segurança das corridas... Também não houve contestação séria à ideia. Afinal, o evento, na linha do tão criticado Euro 2004 pelo agora entusiasta dos carros antigos, pode dar visibilidade à cidade e atrair, durante um fim de semana que seja, as atenções para o Porto.

Ficou por resolver a questão do estudo de impacto ambiental, de que a Câmara se autodispensou e que o Instituto do Ambiente - ainda no anterior Governo - exigiu.

Mais uma vez veio a "cereja no bolo". Embora já fosse certo desde o protocolo CMP/MP de Novembro, em Março deste ano oficialmente repetiu-se que os custos dos trabalhos de requalificação da Boavista seriam pagos pela Metro, desde que o projecto de levar a "linha laranja" pela avenida fosse avante... Os presidentes da Empresa da Metro do Porto e da Câmara do Porto ainda eram os mesmos: o dr. Rui Rio e o dr. Rui Rio.

Infelizmente, o Governo de Santana Lopes não deixou aprovado o projecto da linha da Avenida da Boavista e, aparentemente, o Governo PS não lhe é muito favorável.

E o financiamento com que a Câmara do Porto estava a contar pode não existir. E os cofres da Câmara vão ter que aguentar com o custo da obra da requalificação da Boavista.

Então senhor presidente da Câmara, nada disto tem a ver com o Grande Prémio? A urgência do concurso e da obra, a pavimentação que, nos planos da Câmara e do Metro, será preciso voltar a levantar, pelo menos na zona dos carris para as composições, as "pequenas" modificações ao projecto de Siza Vieira e Souto Moura, a retirada dos carris do viaduto junto ao Edifício transparente, a oportunidade da requalificação da Rua da Vilarinha, as obras na Circunvalação, etc, etc. O Grande Prémio não pode custar milhões à Câmara do Porto?"

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