Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, maio 26, 2005

O Moringue

O sol que queima as folhas das palmeiras
e os pés caminhantes sobre a areia
o sol que trás o vento e afasta o peixe
ele não esquentará a água do moringue
Não há sol no canto desta casa
há a sombra dos luandos que fazem as paredes
a areia do chão trás a frescura da terra
os caniços trazem a frescura
que trouxeram das terras de Cabiri

Quando, de andar nas canoas, voltamos do mar
e a garganta vem a arder como se era sal
a água do moringue sabe-nos como nada mais

Nós bebemos nas canecas de esmalte
a nossa pobreza de pescadores


Ilha de Luanda
1960

Henrique Guerra, in "Alguns Poemas" (União dos Escritores Angolanos), 1978

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial