Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quarta-feira, junho 01, 2005

Versão da fábula "Os ratos reunidos em conselho"

Em tempos, o meu camarada Júlio Roldão deixou-me na secretária um print de um texto magnífico. Por mero acaso, encontrei-o hoje, e não resisto... Aqui fica a reprodução com a devida vénia para o seu autor, que desconheço:


Versão da fábula “Os ratos reunidos em conselho” de João de Deus Ramos

Algures, entre muitos gatos
Um havia
Que era, segundo a fama que corria,
O mais temido caçador de ratos.

Focinho de arreganho,
De grande rabo
E de eriçado pelo,
Para o murganho
Vê-lo,
Era do diabo!....

Nenhum rato caía na tolice
De sair, sem cautela, do buraco,
Por mais fraco
Que o estômago sentisse.

Não, porque ele era o espectro, era a tortura
Que rala, que aniquila, que consome!
Ele era a fome
E a sepultura!

O caçador, porém, não era monge;
E numa linda noite de luar
Soube-se no lugar
Que andava longe…

Então,
(Vejam aqui os homens neste espelho
Como eles, fúteis, tantas vezes são)
Os ratos reuniram em conselho.

Diziam: - Isto assim não pode ser;
Antes a morte que tal sorte:
Passar dias e dias sem comer!

E logo alvitrou um, com alvoroço:
-Sabem o que é preciso?
É pôr-lhe um guiso
Ao pescoço…
Com um guiso ele próprio nos previne…
Muito embora no chão se agache e roje,
Ao menor movimento o guiso tine,
E a gente foge…

-Bravo! - gritaram todos – muito bem!
É assim mesmo! Assim!
Mas quem há-de ir atar o laço? Quem?

Eu não, que não sou tolo! – afirmou um.
Nem eu – disse outro. E enfim,
Não foi nenhum.

Há destes casos neste mundo a rodos;
Se é preciso coragem numa acção,
Todos concordam, ninguém diz que não,
Mas chegado o momento, faltam todos!

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