Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quarta-feira, maio 18, 2005

Ignomínia



Quem virá esta noite, pé ante pé, pela
bruma das florestas,
pelos vales do Mal,
furtivamente, como o caçador maldito,
quem caminha a esta hora,
com este vento,
quem traz o arco,
a flecha mortal,
para as sebes atrás do regato onde vêm
beber os animais do Senhor?
E tu, Senhor,
que fazes aí, no trono dos céus,
se não deténs as armas brancas dos homens,
os sonhos do homicida?
Eu não sei o que faço aqui,
nesta falésia de onde tudo se vê,
o que faço aqui, à espera do sacrifício, à
espera do sangue que tinge os imaculados
campos de algodão.

José Agostinho Baptista, in "Anjos caídos" (Assírio & Alvim), 2003.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial