Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Será normal?

Há um homem neste país que é uma espécie de unanimidade nacional, quando toca a medir a sua produtividade laboral. Está tão bem cotado, no que se refere aos gestores de topo da Administração Pública, que é politicamente incorrecto alguém questionar (em público, pelo menos) o seu salário, ainda que embolse consideravelmente mais do que o primeiro-ministro – o verdadeiro gestor dos gestores da Administração Pública – ou o presidente da República.

Os portugueses – já sem furos no cinto por apertar – aplaudem que assim seja, sobretudo quando, de longe a longe, deixa em paz os desgraçados dos trabalhadores por conta de outrém (sem qualquer hipótese de fuga ou evasão) e se vira para os homens da ma$$a.

Mesmo sendo politicamente incorrecto virar baterias para Paulo Macedo, não pode passar incólume a sua peregrina ideia de mandar rezar uma missa de acção de graças pelo serviço que dirige, a Direcção-Geral dos Impostos (DGI), e os seus funcionários. Quer se queira, quer não, ainda vivemos num Estado laico, e é óbvio que também está em causa a liberdade religiosa de quem trabalha na DGI, porque, nos tempos que correm, não se está a ver um trabalhador “convidado” pela respectiva cadeia hierárquica a negar a presença no solene acto, só porque não.

E ao misturarem-se as coisas – o que a lei impõe e o que é ou pode ser um desejo fervoroso, político, religioso, desportivo, etc. – fica tudo entornado, pelo menos enquanto as encararmos com a tranquilidade que, pelos vistos, é generalizada.

E se, um dia, a ministra da Educação mandar repor os crucifixos nas salas de aulas? E se o ministro da Administração Interna determinar, por despacho, que os agentes da PSP apartam o instrumento para a esquerda e os da GNR para a direita? E se o ministro da Agricultura impuser, por portaria, que sejam deitadas à terra sementes de beterraba aos domingos de Páscoa?

É que eu não acredito que algum dia possa vir a pagar os impostos com missas & rezas...

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