Viagem pelas ruas da amargura

"As viagens devem ser um instrumento à procura do fantástico,nunca o suporte de uma devoção complacente" - Baptista-Bastos

quinta-feira, março 09, 2006

Poema distante

Ó praia de luz morena
de recorte sensual,
eu vou soprar minha avena
de inspiração tropical.

Em toda a areia eu descubro,
nas águas e nos palmares,
vestígios do sol ao rubro
disseminados nos ares.

E a minha mágoa, esta pena
que chora,
tornou-se então mais morena
que outrora!
Onda atlântica da praia,
a minha flauta modula
a tua voz desmaia
como o capim quando ondula...

E eu não sei se a claridade
que muito ao longe se esgarça,
é nuvem na imensidade
ou asa de qualquer garça...

E a minha pena, esta mágoa
flutua
como flutua na água
a lua.

Lília da Fonseca, in "Antologia de Poesias Angolanas", 1957.

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